Se há livros ou histórias que não desaparecem facilmente da nossa memória, este é sem dúvida um deles. Estou certa que me irá acompanhar durante muito tempo.
No voo para Helsínquia, onde o marido vai receber um prémio
literário, Joan Castleman, “a mulher”, passa em revista os quarenta e cinco
anos do seu casamento com Joe Castleman, o autor.
A história começa pelo fim, quando Joan, nessa mesma viagem,
decide por um ponto final na relação. Aos 64 anos ela apercebe-se de que ainda
tem muito que viver e decide sair debaixo da sombra do marido. Durante a viagem
ela vai recordando os altos e baixos do casamento, desde a altura em que se
apaixonaram, sendo ela uma promissora jovem estudante de literatura, e ele o
seu professor de literatura.
É difícil escrever mais sobre este livro sem revelar algo
importante sobre a história, por isso atenção, SPOILER ALERT daqui para a
frente!
A verdade que vem ao de cima quase no final do livro é que
tem sido Joan a escrever os livros que o marido publica. Desde o primeiro
livro! Neste aspeto a história fez-me lembrar um pouco a história de Margaret
Keane, cujo marido também se apropriou da autoria dos seus quadros (Filme: Olhos
Grandes / Big Eyes de Tim Burton, 2015). Por sinal a época também era a mesma: anos 50 /60. Mas isso não será uma mera coincidência, quer-me parecer. Nesta
altura as mulheres ainda não se conseguiam impor no mundo das artes. Haveria
uma ou outra que se aventurava nesse mundo desconhecido e mal habitado pelo
bicho homem, mas poucas conseguiam sobreviver.
E é aqui exatamente que este
livro me pareceu genial. A crítica velada a esse facto, que por vezes hoje ainda é realidade, é extremamente perspicaz. Todo o livro é o relato de uma situação que se revelaria injusta para qualquer pessoa. O tom de Meg Wolitzer, embora por vezes um pouco rude,
por se assemelhar tanto com a vida real, é tremendamente honesto, e faz-nos querer saber mais, descobrir mais sobre estas mulheres que desbravaram caminho nesse mundo tão exclusivamente masculino até então.
Foi uma leitura muito cativante. Se o tema é interessante, então a escrita de Meg Wolitzer, que já me havia conquistado em Os Interessantes, voltou a conquistar-me. O
realismo que ela consegue inferir às personagens, torna os seus livros em algo de excecional. É quase como se estivessem à nossa frente a contar a história. Muito bom mesmo!
Para lerem a sinopse ou saber um pouco mais sobre esta autora, espreitem aqui.