Ler Saramago é uma aventura pois tal como todas as aventuras que merecem o nome, não é fácil. Há que encetar a leitura e
levá-la avante com calma. Apreciar cada frase, cada referência, cada pitada de
sarcasmo, cada pétala de humor. Sim, porque Saramago é divertido.
Para mim, no entanto, é uma leitura que convém ser o mais
seguida possível. Pela forma como ele escreve, que afinal não é assim tão complicada,
o melhor é não fazer muitos intervalos, pois cada vez que se retoma a leitura,
tem de se andar um pouco para trás para não perder o fio à meada.
E realmente, adorei ler Saramago. Já o havia lido quando era
adolescente (O Memorial do Convento e O Evangelho Segundo Jesus Cristo) e na altura também adorei (mais o segundo do que o primeiro). Não sei porque nunca mais li nada dele.
Há o estigma pela forma diferente como ele escreve. Mas se formos a ver bem, ela
até é um elogio ao leitor, pois torna-nos parte do percurso do livro, transformando-nos
em algo mais do que simples leitores. Temos de nos esforçar, que trabalhar um
pouco mais para que a leitura flua e a consigamos apreciar. Com Saramago somos leitores-trabalhadores.
:)
Relativamente a esta viagem, adorei acompanhar Salomão e o seu
cornaca nas suas aventuras e desventuras desde Lisboa até Valladolid e daí até Viena. Um livro sem dúvida fabuloso que revela uma vez mais a magia de
Saramago que lhe valeu o Prémio Nobel.
«Dentro ou fora de mim, todos os dias acontece algo que me surpreende, algo que me comove, desde a possibilidade do impossível a todos os sonhos e ilusões. É essa a matéria da minha escrita, por isso escrevo e por isso me sinto tão bem a escrever aquilo que sinto.»
in ABC, Madrid, 20 de Abril de 1989
in ABC, Madrid, 20 de Abril de 1989