A história de uma família em que as mulheres procuram fugir à norma, com ecos de Lucia Berlin, Shirley Jackson e Carson McCullers.
Sinopse:
Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social. Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.
Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida. Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.
Os elogios da crítica:
«Tirando o melhor partido da narração em primeira pessoa, o livro se apresenta como um texto escrito por Yuna, com breves reflexões metalinguísticas e passagens endereçadas diretamente ao leitor. Essa configuração é responsável por ao menos dois de seus principais trunfos. Em primeiro lugar, a consistência do ponto de vista, produto do jogo constante entre o que a narradora deseja mostrar e o que efetivamente nos deixa ver. […] Em segundo lugar, está a costura admirável entre escrita e pensamento.» — Folha de S. Paulo
«Não há aqui correção política, nem sujeição a regras de pontuação; há golpes de asa, há humor, há um estilo, e é isso que a leitura [deste romance] celebra.» — La Nación
«Um livro meticulosamente feminino, corpóreo e visceral, que joga com a
Sobre a au miséria, roça o terror e triunfa. As primas tem ainda o maior trunfo que uma obra literária pode ter: uma personagem principal que fica na memória, vívida e flagrante. O seu nome é Yuna.» — La Repubblica
Aurora Venturini nasceu em La Plata, Argentina, em 1921. Foi escritora, tradutora e professora. Licenciouse em Filosofia e Ciências da Educação. Trabalhou no Instituto de Psicología y Reeducación del Menor, onde se tornou amiga íntima de Eva Perón. Em 1948, recebeu das mãos de Jorge Luis Borges o Prémio Iniciación, pelo livro de poesia El solitario. Exilou-se em Paris após o golpe de Estado de 1955, e viveu nesta cidade cerca de vinte e cinco anos, privando com figuras como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Eugène Ionesco, Juliette Gréco e Albert Camus. Traduziu e escreveu sobre poetas franceses como Lautréamont e Rimbaud. Garantia não saber estrelar um ovo nem limpar a casa, mas escrevia diariamente, sempre à máquina ou à mão, pois desconfiava de computadores. É autora de mais de trinta livros, embora só no final da vida lhe tenha sido reconhecido um incontornável talento literário. Morreu em Buenos Aires em 2015.