Sei que olhei, acenei… e fechei dentro de mim uma amálgama de sentimentos e emoções inexplicáveis. Nesse momento, descobri que o meu pai era, afinal, um estranho, um estranho de camisa amarela, um rosto igual a outros tantos… não se deu o milagre.
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…a minha mãe se deixou cair ao chão, quase à beira do precipício, tomou a minha irmã pequena ao colo e começou a dar-lhe de mamar, em silêncio, eu e os meus irmãos sentámo-nos junto dela… e ficámos ali, a contemplar como a casa de banho, a cozinha, um dos quartos e o frigorífico deslizavam pela encosta, ao princípio lentamente, depois cada vez mais rápidos até chegar ao fundo, perto do lindo vale que, agora, já não tinha nenhuma graça…
Sobre a autora:
Maria Cecília Garcia nasceu no Jardim do Mar, Madeira, a 14 de Junho de 1949. Aos seis anos de idade partiu para Venezuela para reencontrar o seu pai. Em 1973 regressou a Portugal. Casou em 1983, foi mãe de dois filhos, dedicando-se completamente à família. Nos intervalos possíveis, escrevia. Regressou à escola em 2005 para terminar o ensino secundário, concluindo-o aos 59 anos e idade.