Confesso que José Eduardo Agualusa estava na minha mira há já algum tempo, mas por falta de oportunidade nunca tinha lido um livro seu. Não sei se este é dos melhores (eu sei que as opiniões variam, mas se quiserem deixar em comentário qual foi o vosso favorito, agradeço!), mas eu gostei bastante.
O tipo de escrita é diferente do que leio habitualmente. Tem, tal como o português falado por angolanos, um certo ritmo, uma certa cadência, que nos embala e encanta. As nuances da forma como a história nos vai sendo contada, foi algo que francamente me surpreendeu. Pela positiva! O narrador é uma osga. Sim. Uma osga chamada Eulálio. E é através da observação da vida de Félix Ventura, desde o teto da sua casa, que vamos ficando a conhecer a história do vendedor de passados. Félix é um angolano albino que se dedica a elaborar árvores genealógicas fictícias para os seus clientes, pura nata da sociedade angolana do início da independência. Fascinante é a história de um dos seus clientes, que entra na narrativa em busca, não só, de uma família fictícia, como de uma identidade falsa que seja suficientemente verosímil para ele a utilizar. O que está por trás deste desejo e os acontecimentos que sucedem vão sendo revelados gota a gota, mantendo o leitor preso até ao fim.
Uma verdadeira fábula dos tempos modernos, belissimamente composta com personagens fascinantes e um narrador fora de série. Foi uma excelente introdução à escrita desta autor, do qual espero vir a ler mais.