"A Outra Metade" é uma história fenomenal e extraordinariamente bem escrita. Nota-se que cada ação é calculada com peso e medida, de forma a ter o impacto correto no leitor. Julgo que esta Brit Bennett, como se diz na gíria, não dá ponto sem nó. As personagens são inesquecíveis, reais, pungentes. Fascinam-nos, conquistam-nos e mantêm-nos cativos até ao fim. Depois a complexa trama familiar, a separação das gémeas, a própria vila onde se desenrola grande parte da ação, tudo nos impele a fazer parte da história, nem que seja do ponto de vista do observador. É fascinante.
O tema da raça é abordado neste romance. Mas não é tão linear como normalmente se espera, o que é refrescante e surpreendente. A verdade é que coloca diversas questões que nos fazem pensar. Queria poder dizer-vos mais, mas não posso. Teria de entrar em modo spoiler, o que por regra pessoal não faço aqui no blog.
Mas leiam a sinopse. E depois leiam o livro. Britt Bennet é um nome que de certeza iremos ouvir mais vezes no futuro.
Adorei esta leitura. A saga familiar mais viciante deste ano que não consegui parar de ler! Coloquei-me imensas perguntas e debati-o com alguns amigos. Afinal, um bom livro é mesmo assim. Faz-nos falar dele non stop. Recomendo.
Deixo-vos a sinopse:
As gémeas Stella e Desiree Vignes, tão idênticas de feições quanto diferentes de feitio, nasceram para contrariar a profecia. Geração após geração, a comunidade negra desta pequena localidade, no Estado sulista de Luisiana, esforça-se por aclarar o tom da sua pele, favorecendo os casamentos mistos. Desiree e Stella são disso um bom exemplo, com a sua pele «cor de areia húmida», olhos castanho-avelã e cabelo ondulado. Mas a aparência não basta para as livrar do estigma, e acabam por assistir à morte violenta do pai, à humilhação da mãe depois disso.
Aos dezasseis anos, escolhem fugir juntas da terra sufocante. Pretendem escapar ao seu sangue e libertar o seu futuro. Mas a fuga para Nova Orleães acaba por ditar o afastamento das irmãs, até então inseparáveis.
Catorze anos mais tarde, Desiree volta à casa materna, arrastando pelas ruas poeirentas da terra uma filha de pele «negra como o alcatrão», que atrai todos os olhares do lugarejo retrógrado. Stella, por seu lado, tem a vida construída numa mentira: vive na Califórnia, faz-se passar por branca, e o marido nada sabe do seu passado.
Apesar de tantos quilómetros e tantas mentiras a separá-las, os destinos das gémeas estão inevitavelmente entrelaçados. E voltarão a cruzar-se, porque é impossível renegar a metade que nos pertence.
Na saga desta família que atravessa quatro décadas e vários Estados, Brit Bennett cria uma história de apelo universal e intemporal. Não se detendo no inevitável tema central da raça e da identidade, A Outra Metade reflecte sobre o peso do passado no presente, pondera as consequências e os limites da reinvenção pessoal e oferece uma meditação poderosa sobre a família e a liberdade individual.
Um romance sensual, envolvente e inquietante, de uma das grandes revelações da literatura americana dos últimos tempos.