Este é daqueles livros que deixam marca. Não porque a sua história nos tenha conquistado ou, por outro lado, chocado, mas pela beleza da escrita e pela a forma como a autora nos conta a história, desconstruindo-a.
Elaine Risley é uma pintora algo controversa, que regressa à sua cidade de origem para uma exposição de retrospetiva da sua arte. Este regresso ao passado acaba por mexer muito com ela, e é através das suas memórias, que vamos conhecendo o seu percurso. A voz de Elaine surge-nos como se estivesse em meditação, recordando, finalmente compreendendo e aceitando o que lhe aconteceu.
Ler este livro foi como ver um filme, com uma fotografia e sonoplastia maravilhosas, que desperta simultaneamente os nossos outros sentidos, olfato, tato e paladar. Uma viagem, no mínimo extraordinária, ao íntimo de uma pessoa.
Dizer que é um livro sobre as relações humanas, sobre família e amizades, é dizer muito pouco. Mas, muito resumidamente, é o que é. Um relato introspetivo de uma mulher na segunda parte da sua vida, que nos mostra como o que nos acontece quando somos crianças nos pode marcar profundamente, muitas vezes nos moldando, sem sequer demos por isso.
Uma leitura absolutamente magnífica, que recomendo sem hesitações.
"O tempo não é uma linha, mas uma dimensão. (..) Não olhamos para trás ao longo do tempo mas através dele, como água."