O livro começa com o que poderia ser o início de um
verdadeiro drama: uma menina de 7 anos é abandonada e vê-se sozinha no mundo
sem saber o que fazer. No entanto, a história acaba por se revelar bem
diferente do que poderíamos esperar. Verdadeiramente otimista e escrita num tom
algo humorado, este conto dos nossos dias, tem como protagonistas principais três
improváveis companheiros: Millie, uma menina de 7 anos cujo pai morreu há pouco
tempo e que foi efetivamente abandonada pela mãe num centro comercial; Karl, um
viúvo octagenário que fugiu de um lar de idosos; e Agatha, uma amarga viúva de
oitenta anos que tem vivido os últimos anos da sua vida fechada em casa,
ressentida com a vida e com todos.
Millie é a doçura em pessoa. Um pacotinho de sabedoria e
inocência que enternecerá qualquer um. A sua tristeza é quase palpável, assim
como a sua sede de conhecimento, de querer aprender sobre a vida. Mas a sua
coragem, e acima de tudo a sua esperança, foi o que me conquistou. Adoro os
pormenores desta personagem. A forma como escrevia em todo o lado “Mãe, estou
aqui”, o partilhar com todas as pessoas que ela conhece o facto de que todos vão
morrer, as suas botas vermelhas… Foi de longe a minha personagem favorita, já
que Karl e principalmente Agatha, foram personagens com quem me custou conectar.
A forma como a história evolui é absolutamente fascinante. A
autora quase que parece ter entregado todo o seu trabalho às próprias
personagens, pelo que não sabemos o que vem na página seguinte à que estamos a
ler. É um relato único, louco, diferente, por vezes divertido, outras incomodativo,
mas por incrível que pareça, acaba por cumprir o seu objetivo: fazer-nos refletir
sobre o significado da vida, do amor e da morte.
Desconfio que este é daqueles livros que vai com toda a
certeza conquistar o coração de muitos leitores. Recomendo!