"A Baronesa" de Hannah Rottschild (opinião)

Escolhi este livro porque não só a autora me interessava (já havia lido dela o livro “A Improbabilidade do Amor”), como o próprio tema em si me parecia promissor: a história de Nica Rottschild, uma mulher que supostamente ouviu uma música em Nova Iorque e que por ela abandonou o marido, cinco filhos e a fortuna da família, nunca mais olhando para trás.

Mas a história tem muito mais que se lhe diga. Aliás, Nica Rottschild e a família Rottschild têm muito mais que se lhe diga.

Quando estava na página 60/65, li no Facebook o comentário de uma leitora que me deixou de pé atrás. “Desisti na página 100!” Confesso que não estava a sentir-me muito cativada com a leitura, pois a autora começa por uma abordagem, talvez um pouco cansativa, à história da família Rottschild, mas esperava que a qualquer momento isso mudasse. E sim, mudou por volta da página 120/130 quando a história começa finalmente a centralizar-se na vida de Nica Rottschild, a mulher que a todos chocou naquela época.

E quem foi Nica Rottschild?
Realmente não se pode falar de um membro da família Rottschild sem abordar inicialmente a história da família. Esta família, de origem judaico-alemã, estabeleceu-se como uma verdadeira dinastia bancária na Europa. Prosperou em finais do séc. XVIII e atingiu o seu auge no séc. XIX, sendo considerada uma das famílias mais ricas do mundo. Ainda hoje, os seus tentáculos estendem-se a diversas áreas como a mineração, bancos, energia, agricultura mista, vinho e instituições de caridade
Nica com Thelonious Monk, com quem se dizia ter um relacionamento mais íntimo.
Não ficou provado que assim foi.
É exatamente no início do séc. XIX que, no ramo inglês desta família, nasce Kathleen Annie Pannonica Rottschild, a mais nova de quatro. Em criança foi educada na rigidez do seio familiar, algo que veio com certeza influenciar o seu apetite pela liberdade. Casou, como era esperado, com um Barão francês, Jules de Koenigswarter, de quem teve 5 filhos e com quem viveu durante 15 anos. Atravessou o período de guerra na Europa enviando os seus filhos para local seguro nos EUA, e contribuiu para o esforço militar como parte clandestina do exército francês ao lado do seu marido.

Nica com Charlie Mingus
Após isto, creio que a rotineira realidade de esposa de um barão não cairia muito bem a qualquer mulher, pelo que não foi surpresa alguma quando abandonou marido e filhos e se instalou em Nova Iorque, assumindo-se como patrona de alguns nomes do jazz, tendo ajudado inúmeros talentos a se afirmarem. Entre eles destacam-se os nomes de Thelonious Monk e Charlie Parker.

Nica com Sidney Bechet, Russell Moore e Miles Davis.
Não creio que a autora tenha contemplado fazer uma verdadeira biografia desta senhora, sua tia-avó. Ou pelo menos, não creio que ela o tenha conseguido a 100%. Talvez por dificuldades na obtenção de informações (é sabido que os Rottschild tinham por hábito destruir informações sobre os seus membros familiares – diários, registos médicos, etc), ou pelo facto de ter sido considerado um escândalo no seio familiar e falar disso não ser “de bom tom”… O que sei é que Hannah Rottschild conseguiu suscitar-me uma grande curiosidade sobre a família Rottschild, para além de me deliciar com os pormenores musicais deste seu livro. Não foram poucas as vezes que fui ouvir este ou aquele tema de Thelonious Monk ou de Charlie Parker, para perceber melhor do que se falava. Como sou fã de jazz, foi ouro sobre azul. ;)
Não é uma leitura para todos, mas por diversas razões, uma leitura muito interessante. Gostei imenso.
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