Neste seu livro de memórias, Jeanette Walls, uma jornalista e autora americana, recorda a sua infância e adolescência, como parte de uma família fora do comum e completamente disfuncional. Admiro a sua coragem em escrever este livro. Não só pelas viagens ao passado que teve de enfrentar, como pela forma como encarou esse mesmo passado para conseguir viver o seu futuro.
Rexx Walls, o pai, era um homem carismático e brilhante. Apesar de não conseguir manter um trabalho, devido ao seu alcoolismo e uma personalidade a roçar a esquizofrenia, conseguia capturar a imaginação dos seus filhos, ensinando-lhes física, matemática, geologia, e acima de tudo, a não ter medo da vida. Rose Mary, a mãe, considerava-se uma artista - pintava e escrevia - e embora ocasionalmente fosse "forçada" a arranjar emprego, normalmente como professora, não conseguia assumir as rédeas da família por muito tempo, e acabava por fugir para o mundo artístico. Para ela fazia muito mais sentido pintar um quadro ou escrever um poema, do que fazer o jantar para a família, que desapareceria em menos de quinze minutos.
São situações complicadas, quase inconcebíveis, as que encontramos nas páginas deste livro. Quatro crianças que sobreviveram a uma infância absurda. Mesmo isso - sobreviveram. E incrivelmente acabaram por se tornar em adultos equilibrados e funcionais.
Outra coisa que muito me fez admirar esta autora, foi a forma maravilhosa como escreveu este livro. Para ler de uma escrita bela e cativante que nos faz querer ler mais e mais, não há azedume, não há raiva nem arrependimentos. Ela consegue falar dos seus pais com verdadeiro carinho, apesar de se saber impotente contra o estilo de vida que eles levam. E a solidariedade e cumplicidade entre os irmãos é igualmente enternecedora.
Adorei. É sem dúvida um dos livros mais impressionantes que já li. Principalmente por saber ser real ao mesmo tempo que me soa tão irreal.
Absolutamente fabuloso!