É uma lufada de ar fresco, este "Onde Cantam os Grilos". A história de uma família contada de forma absolutamente ternurenta pela voz de uma personagem de tenra idade, de seu nome Baltazar e alcunha Formiga, pois quando chegou à Quinta do Lago, nunca se vira "coisa mais pequena e escurinha". Apaixonei-me por esta Formiga. Um menino genuíno e tão enternecedor quanto malandro, tal como todos os meninos devem ser.
A família da Herdade do Lago, os Vaz, é-nos então apresentada por Formiga. Cada um deles visto por aqueles olhos pequeninos e inocentes, com o coração à beira da boca, e rapidamente nos sentimos cativados por cada uma das personagens, todas elas muito genuínas e humanas, com as suas características e diferentes intensidades.
Mas, como não poderia deixar de ser, não há bela sem senão, e o senão aqui são os mistérios que se adensam à medida que a narrativa do pequeno Formiga vai avançando. Como se o dia-a-dia da Herdade não bastasse para alimentar a sua curiosidade, Formiga procura, escuta conversas às escondidas e tenta ficar a par de todos os segredos, subindo a árvores, descobrindo esconderijos que o tornam invisível, terminando por vezes à toa, sem saber exatamente como lidar com a informação que descobre.
E é assim que, quando o último e o maior segredo se revela, a infância de Formiga abruptamente termina. E nós, leitores, com grande pena temos de o deixar partir, rumo a uma nova vida, desejando poder acompanhá-lo mas sabendo que, tal como o resto dos Vaz, ficámos presos à Herdade do Lago.
Um livro absolutamente maravilhoso cuja leitura recomendo sem hesitações. Uma excelente aposta da Cultura Editora, que já está a deixar a sua marca no mercado editorial português. Espero pode vir a ler mais livros desta autora que não conhecia mas que me conquistou.
“É dever de cada um de nós viver o melhor e o pior da natureza humana.”