Utilizar esta palavra como título do seu segundo livro, foi um ato bem estudado da autora, Paula Lobato de Faria. É o abismo que encontramos em cada uma das personagens. A eminência de uma queda vertiginosa, por diferentes razões, à distância de um passo, e cabe a cada uma delas decidir se recuam ou se dão esse passo em frente.
A par e passo com o tumulto interior das personagens, está igualmente tumultuoso um regime que se prolonga há demasiado tempo em Portugal. A guerra colonial afeta tudo e todos, e apesar de no continente chegarem poucas notícias, sente-se uma mudança no vento, que começa a soprar contra Salazar. Ainda se sente a força da censura e dos seus tentáculos, mas mesmo os portugueses que se encontram no exílio começam a mexer-se e a sonhar com um regresso.
As personagens principais deste livro são as mesmas que conhecemos no primeiro livro da autora, Imaculada, e é muito interessante ver como evoluíram, como cresceram. Principalmente as mulheres, pois são filhas do regime, e do regime começam a tentar libertar-se.
Mas, apesar de reconhecer a qualidade da escrita e a capacidade de organização da autora no que diz respeito aos factos históricos, sinto que falta algo. Talvez o próprio tema em si não me tenha cativado por aí além, ou talvez a altura em que o li não tenha sido a melhor... não sei. O que sei é que vou querer continuar a ler Paula Lobato de Faria. Acredito que o ingrediente mágico acabará por se revelar.
É, no entanto, um livro que recomendo. Sem dúvida. Haverá imensa gente a identificar-se com as personagens principais, e com o tema de fundo.