Opinião: "A Cadela" de Pilar Quintana

Este pequeno livro foi uma grande surpresa. A história parece simples, mas acreditem quando eu vos digo, é tudo menos isso! É quase como se só víssemos o topo do icebergue, quando para lá da superfície da água se esconde um monstro destruidor de navios.

Damara, uma colombiana que vive na costa pacífica da Colombia, adota uma cachorrinha recém nascida, com muito poucas hipóteses de sobrevivência. A ela se dedica, devotando-lhe todo o amor e cuidados, e a cadela sobrevive. Vai crescendo junto à dona que a trata quase como uma filha, até dia que, seguindo os seus instintos naturais, a cadela foge.

Apesar de toda a ação se centrar na cadela, o que é uma nítida manobra de diversão, a verdadeira história é sobre a sua dona. Damaris carrega alguns fardos muito pesados, traumas e desgostos do passado que, sem que ela dê por isso, condicionam a sua vida e o seu casamento. E é o reflexo disso tudo que a autora insere numa história tão simples: a angústia de uma vida. 

Está escrito de uma forma absolutamente perfeita. Manipula o leitor, mostrando-lhe um por de sol magnífico, que de repente se esconde por trás de umas nuvens ameaçadoras de furacão. Adorei a personagem de Damaris. A a sua força, a sua raiva, a sua solidão e tristeza. Tudo tão bem descrito que quase sentimos nossas, as suas dores.

Quem quiser ler este livro terá de estar preparado para o que a autora promete. Ela abre-nos uma ferida, talvez já fechada ou esquecida, mas não se coíbe de a esfregar com sal. Preparem-se. Mas não deixem de ler "A Cadela".


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