Como é fácil adivinhar pelo título, grande parte da ação desenrola-se num lar, onde é funcionária a protagonista desta história. Justine, uma jovem de 21 anos adora o seu trabalho. Os esquecidos de domingo, os velhotes que ali habitam, fascinam-na, não só pela sabedoria que têm para partilhar, como pelas histórias que lhe contam e pelos silêncios que guardam.
Hélène tem 90 anos e é uma das utentes que mais encanta Justine. Hélène vive no passado. A sua mente não se encontra naquele quarto do lar de idosos As Hortências. Ela está numa praia solarenga junto do amor da sua vida, Lúcien. Durante o tempo que Justine permanece a seu lado, para a alimentar, lavar, vestir, etc, ela vai contado à auxiliar a história desse seu amor, a história da sua vida.
É uma história absolutamente maravilhosa e ao mesmo tempo de partir o coração. Mas como esta autora o sabe bem fazer, torna-a mais fácil de ler ao intercalar a história da própria Justine, também ela interessantíssima e com um ou outro mistério por resolver.
Não vos sei explicar como é que ela o faz, mas Valérie Perrin tem a habilidade criar personagens incríveis, com empregos pouco valorizados (lembro que Violette do seu primeiro livro era inicialmente guarda de passagem de nível e depois guarda de cemitério), habitantes em vilarejos do interior, mas que encerram histórias de uma riqueza impressionante, envoltas quase sempre num ou outro mistério, que nos encantam e nos deixam ansiosos por saber mais sobre elas.
Acho que é este o segredo desta autora. Mais do que uma história (ou neste caso, duas) ela é mestra em criar essas personagens que nos fascinam e conquistam o coração. Talvez seja o melhor livro de 2024. A fasquia ficou mesmo alta para este meu ano literário.