À conversa com Jojo Moyes

No passado Domingo, na Feira do Livro de Lisboa tive o prazer de estar à conversa com a simpática autora do "Retrato de Família", o 3º livro dela publicado recentemente pela Porto Editora.
Jojo Moyes mostrou ser uma pessoa absolutamente adorável e acessível, pelo foi realmente fantástica esta oportunidade de a conhecer.
De forma a ficarem também a conhecê-la um pouco melhor, aqui fica um excerto dessa conversa (primeiro em inglês e um pouco mais abaixo traduzido para português):


F - Jojo, one of the greatest things about reading is being able to travel without leaving your spot on the sofa, and I do believe that you give us that opportunity in an amazing way. After a couple of paragraphs of a certain scene, we’re there. We’re actually there!

JM - I have to say that is one thing I feel very passionate about. I remember a long time ago, before I had a book published I read a book called The Memoirs of a Geisha, and what really struck me about that book was stepping into a world that I have never been before, I had no desire to know until I read it. So I do conscientiously try to do that in my books, and I do enjoy the research, sometimes too much.

F -That’s actually my question: do you know all the places that you talk about in your books?

JM - No. I do the research. Before being an author I was a journalist, so for me it is very important to get it right. I really enjoy that in the books I’m reading, to be taken away, so when I write and read it back, I have to almost see it, like a film. For instance, I lived in Hong Kong for one year, but my grandmother lived there many years ago, so I asked her lots of questions and did a lot of research.

F - I read your book Silver Bay during my summer holidays two years ago, on the beach. I just loved it. I could swear that I was seeing the whales and the dolphins whenever I stopped reading and looked at the sea right in front me. Tell me a little about the research you did for that book.

JM - I did a tour book in Australia, and when I was finished I stayed with my children for a short holiday in a small fishing village which inspired me so much. The weather was bad so the only thing we could do was whale watching. I took the boat ride several times, but it wasn’t so much for the whales, although they were amazing. It was this strange group of people, perfectly mixed together, that made a community that I enjoyed observing so much. So I took that boat ride, not really to watch the whales but actually to watch the people.

F - Your book Night Music is very different from the other two; the story has nothing to do with the others, here you talk about the importance of a home, of family, of love and betrayal. Do you want to comment?

JM - This was a difficult book to write because I had for a main character, a mother who was a slightly selfish person, and my publishers didn’t like that, they said readers are not going to like her, you have to make her a more sympathetic character.
It came because I had a friend who was a violinist and I used to watch her, and she would be playing with her children all around, and she would be in her own world. It amazed me how she could lose herself, even with all the chaos around her. And the difficult thing if you're a woman is trying to do the things that you love and be a good parent at the same time. Of course my character fails at the beginning but she gets it right by the end.

F - Talking about characters, in both your books Silver Bay and Sheltering Rain, we can find strong older women which we immediately fall in love with, or to be more exact, aspire to be when we grow old. I have to ask you, did your grandmother inspire you to build those characters?

JM - Yes. It's very important that we have some strong women characters. It's very easy, especially if you write fiction that has romance in it, to have the women be the kind that needs rescuing. So I try to avoid that.
For instance the Kathleen character from Silver Bay was actually inspired by an old photograph of a young woman holding a shark she had caught. And this was in 1920! There are some characters that are obviously flakier, but I really like to have strong women. There's a kind of grit in those older women who stop caring about what everyone else thinks and just go their own way. There's a famous poem in England that says "When I'm an old woman, I shall wear purple" and it describes exactly the kind of character we're talking about.

F - My last question is about your name - Jojo, is it your real name or a nickname?

JM - It's a nickname that I have had since birth. There's actually a story about it. I was born very premature, two and a half months, back in 1969. So my mother was told that I was not going to live, and that she had to christen me very quickly for me to have a proper burial and so she just thought of the three girl friends she had, Pauline, Sara and Jo. But then they said no, no, she's going to live, and then she thought I was so tiny that she could no longer call me Pauline, Sara or Jo. At that time there was a Beatle song called Get Back and there was a Jojo on it, so I just became Jojo. Later on I found out that the Jojo on that song was about a man, but I never asked my mother about that. I don't want to know the answer. ;)
A funny thing is that when I worked for a newspaper, people used to think that I was a Nigerian man - Jojo Moyes.

Thank you so much, Jojo for this wonderful conversation! I loved chatting with you.

F – Uma das vantagens de se ler um livro é podermos viajar sem sair do sofá, e a meu ver, acho que Jojo proporciona aos seus leitores essa oportunidade de uma forma absolutamente maravilhosa. Após o segundo parágrafo de uma determinada cena, nós estamos realmente lá!

JM – Tenho de confessar que esse é um ponto muito importante para mim. Lembro-me de que há uns tempos, antes de ter um livro publicado, li o livro “As Memórias de uma Gueixa” e o que mais me fascinou nesse livro foi o entrar dentro de um mundo que eu não conhecia, nem sequer tinha o desejo de conhecer, pelo menos até então. Por isso, e conscientemente, tento fazer o mesmo nos meus livros. E eu adoro o trabalho de pesquisa que faço. Às vezes um pouco demais.

F – Essa é exactamente uma das minhas perguntas: a Jojo conhece todos os locais de que fala nos seus livros?

JM – Não. Eu faço um trabalho de pesquisa. Antes de escrever livros, fui jornalista, de forma que os pormenores são deveras importantes para mim. E é mesmo uma coisa que aprecio nos livros que leio, o ser transportada para outro local, por isso quando leio o que escrevi tenho de visualizar toda a cena, quase como um filme. Por exemplo, vivi em Hong Kong durante um ano, mas acabei por fazer imensas perguntas à minha avó, que viveu lá há muitos anos e também fiz imensa pesquisa.

F – Li o seu livro Silver Bay – A Baía do Desejo há dois anos durante umas férias na praia, e simplesmente adorei. Quase podia jurar que via baleias e golfinhos no mar à minha frente de cada vez que levantava os olhos do livro. Fale-me por favor um pouco da pesquisa que fez para esse livro.

JM – Andei a fazer um livro sobre turismo na Austrália e quando terminei esse trabalho pude desfrutar de alguns dias de férias com os meus filhos numa pequena aldeia piscatória, que me inspirou imenso. O tempo estava mau e a única coisa que se podia fazer por ali era sair num barco para ir ver as baleias. Fui imensas vezes nessa viagem, não só pelas baleias, que por si só era uma coisa espectacular, mas acima de tudo pelas pessoas. Adorei poder observar aquele estranho grupo de pessoas, com uma simbiose fantástica e que constituíam uma comunidade fantástica.

F – O seu livro Night Music (Um Violino na Noite) é bastante diferente dos outros dois. Nele a Jojo fala da importância de um Lar, de uma casa de família, de amor e de traição. Quer comentar?

JM – Este foi um livro difícil de escrever pois a personagem principal era uma mãe que era um bocadinho egoísta, e o meu editor dizia-me que os leitores não iriam gostar dela, e que eu devia torná-la numa personagem mais simpática, mais apelativa.
Na verdade esta personagem surgiu-me pois eu tinha uma amiga que era violinista e eu costumava vê-la tocar com os filhos de um lado para o outro, com ela absolutamente isolada no seu próprio mundo. Para mim era incrível como ela conseguia perder-se daquela maneira, mesmo com o caos que a rodeava.
Eu acho que a coisa mais difícil para uma mulher que é mãe, é fazer aquilo que gosta e ao mesmo tempo ser uma boa mãe. Claro que a minha personagem nesse livro falha completamente no início, mas no fim ela acaba por conseguir.

F – Falando em personagens, em ambos os seus livros Silver Bay – A Baía do Desejo e Retrato de Família, encontramos duas personagens extremamente fortes, duas mulheres já com uma certa idade, pelas quais nos apaixonamos imediatamente, ou melhor dizendo, nas quais nos ambicionamos tornar quando envelhecermos. Tenho de lhe perguntar, foi na sua avó que se inspirou para construir estas personagens?

JM – Sim. Acho que é muito importante termos algumas personagens femininas com uma personalidade forte. Quando se escreve ficção que tem algum romance, é muito fácil cairmos na tentação de arranjar uma personagem feminina frágil, que precise de ser salva. E é isso que eu tento evitar.
Por exemplo a Kathleen do livro Silver Bay – A Baía do Desejo foi na verdade inspirada numa fotografia de 1920 de uma jovem mulher a segurar o tubarão que tinha pescado!
Claro que há uma ou outra personagem que é mais fraca, mas por norma gosto de ter personagens femininas fortes. Há uma espécie de garra nessas mulheres mais velhas que deixam de se preocupar com o que os outros dizem e simplesmente seguem o seu caminho. Em Inglaterra temos um poema muito famoso que fala desse tipo de mulheres, “Quando eu envelhecer, vou usar púrpura”.

F – A minha última pergunta é sobre o seu nome – Jojo, é o seu verdadeiro nome ou um diminutivo?

JM – É um diminutivo que tenho desde que nasci. Há por acaso uma história por trás desse nome. Eu nasci prematura, dois meses e meio mais cedo, em 1969. Por isso avisaram logo a minha mãe que era muito provável que eu não sobrevivesse e que talvez fosse melhor baptizarem-me rapidamente para poder ter um funeral como deve de ser. Então ela pensou em dar-me o nome de uma das suas melhores amigas, Pauline, Sara ou Jo. Entretanto disseram-lhe que afinal eu iria sobreviver, e ela achou que eu era tão pequenina que ela não podia me dar um daqueles nomes. Na altura ouvia-se uma música dos Beatles, Get Back, que falava de um Jojo, por isso eu fiquei Jojo. Mais tarde percebi que o Jojo dessa música era um homem, mas nunca perguntei nada à minha sobre isso. Acho que não iria querer saber a resposta! ;)
Uma coisa engraçada sobre o meu nome é que quando trabalhava num jornal muitas pessoas pensavam que eu era um homem nigeriano - Jojo Moyes.

Obrigada Jojo por esta conversa tão interessante! Adorei falar consigo.
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