Se há algo que não deixa de me admirar, é o poder que certos
livros detêm.
Este “Não Odiarei” é sem dúvida um desses exemplos. Em meia
dúzia de páginas conseguiu abrir os meus olhos para uma situação que se arrasta
há inúmeros anos (décadas!) e que aprendi a ignorar, como muito provavelmente a
grande maioria dos portugueses. Levou-me mesmo a procurar mais informação sobre
o assunto, de forma a entender o que é exatamente o conflito Israelo-árabe, qual
a sua origem e o que tem sido feito para tentar resolvê-lo.
A verdade é que todos os dias no noticiário lá aparecem notícias
de mais umas quantas explosões no Médio Oriente, notícias que tão facilmente se
tornaram para nós em ruído de fundo, tomando apenas atenção ao facto de termos
de mudar de canal ou tapar os olhos à criançada pois certas imagens podem
chocar. Mas lá por viverem longe de nós e de terem modos de vida e religião
diferentes das nossas, não quer dizer que não sejam pessoas válidas, dignas de
ter uma vida decente e a possibilidade de, como nós, educar os seus filhos em
paz e harmonia.
A história de Izzeldin Abuelaish e da sua família é deveras
impressionante. Este homem, um médico palestiniano que dedicou a sua carreira a
ajudar casais inférteis a serem pais independentemente da sua origem
(palestinianos ou israelitas, ricos ou pobres), defendeu sempre a conquista de
um entendimento entre os dois povos pela via da Paz, do Amor e da Saúde.
Este homem, que em 2010 foi nomeado para o Prémio Nobel da
Paz, é um verdadeiro exemplo da boa vontade, e apesar de todos os infortúnios
que lhe foram lançados para cima, continua a defender com convicção a sua ideia sobre a PAZ.
Mas o que torna verdadeiramente extraordinário Izzeldin
Abuelaish, o que o lançou para a boca do mundo, foi um acontecimento brutal que
quase abalou a sua existência em 2009 - a morte de 3 filhas e uma sobrinha,
durante a chamada Operação Chumbo Fundido ou o Massacre de Gaza. O chamado Médico
da Paz, conseguiu entrar em contacto com um apresentador da televisão israelita
seu conhecido que tomou a decisão de atender a chamada em direto, acabando por partilhar
com o mundo a angustia daquele pai que apenas tentava proteger a sua família.
Muito provavelmente graças a essa intervenção, os olhos do mundo se detiveram,
e o terror que durava já desde meados de Dezembro cessou de imediato.
O conflito não terminou, mas o exemplo deste homem que
envergonha qualquer um de nós que imediatamente (e justificadamente) gritaria
vingança no lugar dele, faz-me acreditar que a Paz é passível de alcançar.
Uma das coisas que mais me marcou foi a sua resposta a uma
pergunta que lhe fizeram após a morte das suas filhas: "Tu não odeias os
israelitas?"
«Quais são os israelitas que devo odiar? Os médicos e
enfermeiras com quem trabalho? Aqueles que estão a tentar salvar a vida da
Ghaida e a visão à Shatha? Os bebés a quem assisti aos partos? Famílias como a
dos Madmoony que me deram trabalho e abrigo quando eu era rapaz?»
Como disse no inicio, certos livros são poderosos. Abrem a
nossa mente, a nossa alma, e fazem-nos pensar. Incitam-nos a procurar mais
informações e a tentar ver todas as perspetivas sobre um determinado assunto.
Este é um livro que não devem deixar de ler.
Para mais informações sobre este livro podem consultar aqui.
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