Para começar, adoro o título. É a premissa de uma boa
aventura livresca, embora a história depois fuja um pouco à ideia inicial. E a capa? Simples e cativante, não acham?
Boa aposta, Porto Editora! 😉
Boa aposta, Porto Editora! 😉
Bem, assim que as palavras começam a povoar a primeira página do capítulo
I, fiquei imediatamente fisgada.
Juliette é uma jovem que apanha todos os dias o mesmo metro
rumo ao emprego. Ela tem o adorável vício de bisbilhotar os livros que os
outros passageiros vão a ler – quem não o fez que atire o primeiro livro! lol.
Gosta de imaginar as suas vidas, ricas e preenchidas, bem diferentes da sua,
que nada tem de especial. Juliette trabalha numa agência imobiliária e os dias
são todos iguais.
Um dia, por acaso, ela muda de trajeto e aí a sua vida vai mudar radicalmente.
Deparamo-nos então com uma bela história, a roçar o
fantástico, com imensas referências literárias que enriquece de sobremaneira a
narrativa. Para além de falar sobre livros de uma forma generalista, também
especifica alguns que, obviamente, aquecem o coração de qualquer leitor. O
primeiro a saltar-me à vista foi um livro que adorei “Rebecca” de Daphne Du
Maurier, cujo destino do exemplar que cai nas mãos de Juliette é bem interessante.
O texto, escrito com uma fluidez e meiguice inesperadas, é delicioso:
«Juliette deu mais
três passos e estendeu o braço, roçando as folhas curvadas pela humidade. Com a
ponta da língua humedeceu o lábio superior. Ver um livro entalado entre dois
painéis de metal provocava-lhe um sofrimento que era quase superior ao de
afogar uma aranha. Suavemente, encostou o ombro a um dos batentes e empurrou; o
volume deslizou um pouco mais para baixo. Apanhou-o e, mantendo-se encostada à
porta, abriu-o e aproximou-o do rosto.
Sempre gostara de cheirar
os livros, de os farejar, sobretudo quando os comprava em segunda mão – os livros
novos também tinham odores diferentes consoante o papel e a cola utilizados,
mas ficavam mudos em relação às mãos que os haviam segurado, às casas que os haviam
abrigado; ainda não tinham história, uma história bem diferente daquela que contavam,
uma história paralela, difusa, secreta. Alguns cheiravam a mofo, outros guardavam
entre as suas páginas vestígios tenazes de caril, de chá ou de pétalas secas;
manchas de manteiga sujavam por vezes a sequência; uma erva comprida, que
desempenhara o papel de marcador durante toda uma tarde de verão, desfazia-se
em pó; frases sublinhadas ou anotações à margem reconstituíam, em pontilhado,
uma espécie de diário íntimo, um esboço de biografia, por vezes o testemunho de
uma indignação, de uma rotura.
Aquele cheirava a rua –
uma mistura de ferrugem e fumo, de guano, de pneus queimados. Mas também, e
isso era espantoso, a menta. Alguns caules destacaram-se do vinco, caíram sem
ruído e o perfume tornou-se mais intenso.»
É sem dúvida uma pequena pérola para os amantes dos livros. Não
concordam?