"Filho Único" aborda essa realidade. Um tiroteio ocorre numa escola e as consequências são, obviamente, devastadoras. O leitor fica a saber rapidamente o que aconteceu através do relato de Zack, um menino de 6 anos, que se escondeu com os seus colegas e a professora num armário ao ouvirem os primeiros tiros ecoar pela escola. Imediatamente nos salta à lembrança O Quarto de Jack, e o seu narrador também de tenra idade, mas acreditem, a semelhança termina aí.
Zack perde o irmão mais velho, de 10 anos nesse acontecimento e de um momento para o outro vê a sua vida mudar drasticamente. Se é complicado para uma criança perceber o que aconteceu e porquê, mais ainda é para um adulto, e a mãe de Zack não cede a um luto, por assim dizer, com normalidade. Prefere seguir o caminho da culpabilização, apontando o dedo a quem, a seu ver, deverá ser responsabilizado pelo acontecimento. Então, o jovem Zack é deixado um pouco à deriva, tentando lidar com os seus próprios sentimentos e reposicionando-se na família como filho único e, ao fim ao cabo, a quem sente que tem a responsabilidade de fazer tudo ficar novamente bem.
É uma história terrível, sem dúvida, mas ao mesmo tempo é uma história lindíssima. Primeiro porque ao ser-nos contada na voz de Zack, temos a perfeita noção que sabemos exatamente o que está a acontecer ainda que o próprio Zack não se aperceba. As suas palavras, o seu tom serve-nos de bálsamo para contrabalançar com o que lemos. E depois, toda a sua inocência e bondade a vir ao de cima e a mudar o rumo dos acontecimentos. Absolutamente fantástico. Uma lição para todos nós que recomendo sem hesitações. Um livro a não perder que vou guardar na minha memória com muito carinho.