Opinião: "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery

Este não é um livro para toda a gente. Ou melhor dizendo, é. Uma pessoa pode é não estar na idade ou altura certa para o ler. Ainda bem que demorei alguns anos até lhe pegar (ou até lhe conseguir por as mãos em cima!), pois acho que há uns anos desistiria a meio. A verdade, meus amigos, é que ao amadurecer como leitora, sinto agora o que leio de uma forma diferente. Passei a admirar mais os romances reflexivos, os que nos fazem pensar sobre as coisas da vida. E sem dúvida nenhuma que A Elegância do Ouriço estará no topo dessa lista. 

A ação passa-se num prédio luxuoso em Paris, onde os residentes são uns snobes horrorosos, que se abominam uns aos outros. Escapando a esta designação encontrarmos Renée, a porteira, e Paloma, uma miúda de 12 anos filha de uma das famílias do prédio, que tem como objetivo se suicidar no dia que fizer treze anos.

Até aqui tudo normal. Mas o que salta logo à vista do leitor nas primeiras páginas é que Renée não é de todo o que aparenta ser. Ela esconde-se atrás da fachada de porteira mal humorada que vive sozinha com o seu gato e só vê programas de audiências ao vivo na televisão, quando na realidade ela é uma bibliófila entusiasta de filosofia e literatura russa, e fã do cinema clássico japonês. A par e passo com Renée, temos uma outra personagem principal, que também tenta passar despercebida, tanto em casa como na escola. Paloma é uma miúda super inteligente, um verdadeiro fenómeno até, que simplesmente se recusa a encaixar-se no estereotipo que os pais lhe reservam: casar-se com um homem rico e criar uma família tão oca como a sua. Passa então a vida a esconder-se por todo o lado, ao mesmo tempo que faz os impossíveis para provocar os pais e irmã.

Estas duas personagens descobrem-se um dia e criam uma amizade improvável, mantendo no entanto a sua discrição em relação aos outros.

Tudo muda no dia em que surge um novo morador no prédio, o misterioso Sr. Ozu. Kakuro Ozu é um japonês refinado e elegante, alheio ao protocolo de classes parisiense, que derruba imediatamente as fachadas daquelas duas, e as vê e admira tal como elas são.

A história vai sendo contada ora por Renée, ora por Paloma, as quais acrescentam as suas considerações e críticas sobre a vida, as pessoas, os acontecimentos, enfim, o mundo em geral. Com uma certa dose de humorismo a autora consegue ir introduzindo verdadeiros conceitos filosóficos, sem no entanto tornar a leitura aborrecida. Bem pelo contrário!

Fiquei apaixonada pela personagem de Renée. E penso quantas vezes me deparo com anti-Renées: pessoas que também se escondem por trás de uma fachada. Só que ao contrário de Renée, elas armam-se em muito inteligentes e interessantes, quando na realidade são do mais oco e fútil que há. 

De qualquer das formas, sobre este romance tenho a dizer que gostei imenso. Era mais ou menos do que estava à espera, mas confesso que superou as minhas expectativas. A conclusão que retiro é que não devemos esconder-nos da vida, mas aproveitar tudo o que ela nos dá. Estou, no entanto, convencida que cada pessoa que ler este livro, tirará conclusões diferentes, embora todas positivas.

Foi uma leitura interessantíssima que muito me agradou. 

P.S. Sobre o título, que acho lindíssimo, eis a explicação dada pela autora ao referir-se a Renée:  "exteriormente, está coberta de espinhos, uma autêntica fortaleza [...] no interior, também é tão requintada como os ouriços, que são uns animaizinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes". 

Maravilhoso, não?

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