Mistério à parte (acho que ainda não se tem a certeza absoluta de quem é Elena Ferrante), não há dúvida que a sua escrita é viciante. Talvez seja essa a verdade por trás do mistério, já que a própria o disse por diversas vezes, a ausência (não o anonimato) existe para que os textos tenham a supremacia sobre tudo o resto.
Tudo começa quando o filho de Lila, Rino, liga a Lenù e diz-lhe que a sua amiga, de há já sessenta anos, desapareceu. E Lenù começa a contar-nos a história da sua amizade.
Lenù e Lila são duas meninas, residentes num dos bairros pobres de Nápoles, que se conhecem na Escola Primária. Lila é inteligente, sagaz, corajosa e determinada. Lenù admira-a, inveja-a, quer ser como ela. E o livro aborda basicamente isto, uma amizade que começa na infância e se estende para a adolescência. Por vezes soa quase como uma telenovela. Mas na realidade acaba por ser muito mais.Não só descreve na perfeição o que a amizade no feminino, com todas as suas dores e mágoas, dificuldades e vitórias, como sub-repticiamente, a autora vai-nos revelando coisas sobre o bairro, sobre a vida naquela altura, naquele local. Como é ser parte de um bairro daqueles, em que todos se conhecem e há ódios antigos que condicionam a vida. Sem darmos por isso, vamos decompondo a história de um povo, de uma nação.
As personagens são tão reais, tão bem construídas, que quase conseguimos visualizá-las. Lenú e Lila são tão diferentes como duas gotas de água, no entanto, compõem-se, completam-se. Nem sei qual delas é a amiga genial. A sua amizade é realmente o mote de todo o livro, e leva-nos a imensas interrogações e até a recordações da nossa própria infância..
Todo o burburinho à volta destes livros parece-me merecido. Esta leitura não desiludiu e que venha o próximo: A História do Novo Nome.