Acompanhamos as histórias de duas mulheres, mãe e filha, Brígida e Filomena. Uma abandona o seu Alentejo por amor a um homem, em cujos olhos de mar ela se afogou. Ruma a terra desconhecida, que a acolhe e que ela com dificuldade adota como sua. Outra, Filomena, sente-se desenraizada numa Lisboa contemporânea, e tenta, perceber a que local afinal pertence.
Apaixonei-me pela história de Brígida. Senti-me como se também eu tivesse sido levada a tudo deixar para seguir o amor de um homem que, apesar de me amar, não consegue fazer-me a única dona do seu coração. A descrição dos sentimentos, a luta interior, a dor e a mágoa, tudo, Carla M. Soares conseguiu transmitir sem mácula. Percebe-se que as palavras vieram de dentro para fora, e não de fora para dentro, se é que isto faz sentido.
A história está muitíssimo bem organizada, e apesar dos muitos saltos temporais, não existe confusão, nem equívocos. Sabemos sempre quem fala e de onde fala, tanto época, como local. As descrições dos locais estão perfeitas, completamente infiltradas por entre a narrativa, quase sem se fazerem notar, como um perfeito complemento. E todas as personagens têm o seu grau de importância para a história, e estão desenvolvidas na perfeição, consoante o seu papel.
Adorei esta leitura. Quer-me parecer que se trata de um livro perfeito. Abordando um tema difícil, ensina-nos e faz-nos querer saber mais sobre um tema que talvez não tenhamos aprofundado muito. Acaba por ser também uma leitura indispensável, não só para quem viveu aqueles tempos conturbados e teve de abandonar a sua terra, como para quem os recebeu, bem ou mal. Que de uma vez por toda se entenda que não há eles e nós, só há NÓS.
Carla, com este superaste-te. Muitos parabéns! <3