Opinião: "O Livro dos Amigos Perdidos" de Lisa Wingate

Este é um livro inspirado em eventos reais. O Livro dos Amigos Perdidos poderá não ter existido, mas existiram os anúncios dos Amigos Perdidos, em jornais do Sul dos EUA após a Guerra Civil, onde escravos recentemente livres procuravam membros das suas famílias e amigos que haviam sido vendidos. Esses anúncios eram muitas vezes lidos no púlpito das Igrejas ao domingo, para que a mensagem chegasse a toda a população. 

Lisa Wingate, que já conhecemos de outro livro igualmente interessante (Antes de Sermos Vossos), mostrou-se à altura de mais uma história pungente e poderosa. Ela salta entre séculos ao contar a história de três jovens mulheres (uma ex-escrava, a filha do dono de uma plantação, e a filha mestiça desse mesmo homem) e a história de uma jovem professora que tenta cativar os seus alunos para a leitura, através da História dos antepassados deles. Ambas as histórias passam-se no mesmo local.

Por vezes, nestes livros que saltitam entre épocas, acabamos por gostar mais de uma história do que de outra. Neste, porém, isso não me aconteceu. Gostei igualmente, e muito, de ambas. No final de cada capítulo apetecia-me saltar o próximo para continuar a história. Mas depois no seguinte, sentia exatamente o mesmo. 

Esta autora é exímia no que diz respeito à organização da história. Em altura nenhuma ficamos confusos, ou sentimos que lemos algo que não faz sentido ali. Não. Está sempre tudo certo, no local correto.

As personagens estão muitíssimo bem delineadas, cumprindo a sua função na perfeição. Há as que adoramos, como Hannie, a pequena ex-escrava, e a professora Bennie, e as que detestamos como a Menina e a Senhora da casa. Mas elas existem porque só assim a história faz sentido.

No final a autora dedica um capítulo à explicação histórica dos anúncios Amigos Perdidos. É algo muito interessante que gostei imenso de descobrir. Mais um facto que desconhecia da História dos EUA.

Quem for ler este livro não se irá arrepender. É garantida uma história muitíssimo interessante, com nuances brutais, que nos mostra um pouco do que foi a vida para os escravos libertados nos EUA do pós Guerra Civil, e como hoje em dia ainda permanece um outro tipo de segregação, a de classes económicas. Muito, muito bom!

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