Confesso que entrei a medo nesta leitura. Todos os livros que tenho apanhado este tema, acabam por cair no mesmo esquema, abordando cirurgicamente um evento, muitas vezes inspirado em situações reais, como as que existiram à época. Para quem não leu a sinopse, falamos da caça às bruxas, mais concretamente na Inglaterra de 1600. No entanto, este livro, apesar de aflorar o mesmo tema, consegue abordá-lo de um forma bem diferente.
Para já, estamos no tempo da Peste Bubónica, que assolou a Inglaterra em 1665-1666. A ação decorre numa pequena vila mas também na cidade de Londres. Uma das personagens principais é Mae, filha do boticário local, um homem cuja obsessão pela igreja não o deixa ver para lá da religião. A pequena Mae é curiosa e inteligente, duas qualidades que, em conjunto com o facto de ser mulher, a vão colocar em perigo junto do próprio pai.
A outra personagem principal é Isabel, a parteira e curandeira daquela região, que sente uma grande afinidade por Mae, não só por ter sido amiga da sua mãe, como a ter ajudado a chegar ao mundo. Ela percebe melhor que ninguém o perigo que a menina corre se continuar a viver com o pai. E obviamente, Isabel é um alvo a abater por Wulfric, o pai de Mae. Devido aos segredos que esconde, é igualmente um alvo fácil.
A história está belissimamente bem escrita. Adorei o tom sóbrio e constante desta autora, que nitidamente fez uma minuciosa pesquisa histórica, e que consegue incorporar uma história quase policial, numa época tão complicada e abordando um tema tão sério. Adorei especialmente a personagem de Mae. A sua voz fica presente muito depois do livro terminar e a sua história ficou a ecoar na minha memória. É um livro que merece nota máxima, e que recomendo sem hesitações!