Li há relativamente pouco tempo o livro
Rainha Santa, de Isabel Machado, e apaixonei-me por Isabel de Aragão. Quando vi que uma outra Isabel (a Stilwell) se dedicara a
escrever sobre a mesma Isabel (rainha), achei que não podia perder a oportunidade de
conhecer um pouco mais esta Rainha da qual ainda hoje se ouve contar histórias.
Na realidade, se Isabel Machado romantizou
Isabel de Aragão, Isabel Stiwell tornou-a mais real. São dois livros que se
complementam, no sentido de que nos dão a conhecer esta mulher, neta, filha, esposa,
mãe e avó de reis e rainhas ligados à História de Portugal e no fundo à
História da Península Ibérica.
A melhor rosa de Aragão, como a chamava o seu avô D.
Jaime I, o Conquistador da Casa de Aragão, que a criou desde tenra idade, foi a Rainha consorte de D. Dinis, rei de Portugal. Isabel herdou o
seu nome da sua tia materna, Santa Isabel da Hungria, de quem se conta igualmente
uma lenda semelhante à do milagre das rosas. De notar que gostei particularmente da forma como Isabel Stilwell conseguiu
dar a volta a esta lenda, que conheço desde a primária.
E é verdade que, quem conta um conto,
acrescenta um ponto, pois com o passar dos tempos, os milagres desta
Rainha tomaram grandes proporções. Ela dedicou, sim, a sua vida a cuidar dos
pobres e dos doentes, pois era dotada de um profundo sentimento de justiça e de solidariedade social. Doia-lhe bem fundo na alma os que sofriam e os que padeciam de males como a lepra. No entanto, muitas das curas eram feitas com ervas e mezinhas, de cujo conhecimento havia adquirido junto de um dos mais
famosos físicos da época, Arnaldo de Vilanova. Milagre, sim, foi a educação que Isabel recebeu, muito à frente do seu tempo, dotando-a de uma riqueza de conhecimentos muito elevada que lhe permitiu ajudar tantos.
O título deste livro está muito bem
conseguido: Isabel de Aragão, Entre o Céu e o Inferno.
Se na realidade a rainha tentava levar a
sua vida praticando o bem, o mal entrava-lhe pela casa a dentro, perseguido-a constantemente com as lutas e problemas familiares, dos quais não conseguia
manter-se alheada. Quantas vezes utilizou ela a expressão “Como Caim e Abel”?
Quantas vezes se viu forçada a intervir entre marido e filhos, filhos e
enteados, irmão e netos? Até ao fim da vida, esse Inferno lhe esteve dedicado. Os confrontos sucediam-se, e muitos deles só não avançaram mais devido à sua
intervenção.
Não posso deixar de mencionar Vataça
Láscaris, uma princesa da corte bizantina que era sua parente afastada (por via da Isabel da Hungria) e que acompanhou Isabel desde
tenra idade e que se tornou na sua maior aliada. É uma personagem fabulosa, com
quem muito me identifiquei, sendo que acho que ela própria merecia um livro só
seu… mas isso são outras conversas. Neste livro é bem retratada a sua importância junto dos reis de Portugal,
mas também junto da corte de Castela, onde viveu enquanto acompanhou D. Constança
(filha de Isabel) que desposou D. Fernando IV, e de Aragão, a partir do momento
em que subiu ao trono a sua eterna paixão, Jaime II de Aragão (irmão de
Isabel). A amizade entre estas duas mulheres nunca esmoreceu, durando até à morte, e os contactos de Vataça,
tida por alguns como espia e informadora para os reis de Portugal, contribuiu imenso para a importância de Isabel
como conselheira e pacificadora dos reinos da Península Ibérica.
Um romance magnífico, como não podia deixar de ser, pela mão de Isabel
Stilwell.