"Encontrei-te nas Páginas de um Livro" de Xavier Bosch (opinião)


Adoro livros que falem sobre livros, leitores, livrarias e afins… por isso esta capa e este título fizeram logo o meu coração palpitar. E na verdade, chegada agora ao fim desta leitura posso dizer, sem sombra de dúvida, que muito mais do que a história de um amor ao qual o destino não sorriu, este livro é uma homenagem aos livros e às livrarias, esses refúgios das palavras e museus do pensamento.

O enredo centra-se na história de um amor inesperado, fortuito, entre Paulina, uma mulher barcelonesa casada e com uma jovem filha, e Jean-Pierre Zanardi , o verdadeiro bon vivant, dono de uma galeria de arte em Paris. Os dois conhecem-se no casamento de uma prima de Paulina, e entre eles surge algo tão intenso que, mesmo tendo o relacionamento durado apenas quatro dias, lhes durará para toda uma vida. O autor fala de amor. Eu cá já não sei se assim lhe chamaria.

Bem, este affair é descoberto acidentalmente, muitos anos mais tarde, pela filha de Paulina que, por ter perdido a mãe em tenra idade e sentir que não a conheceu verdadeiramente, decide ir em busca de mais informação sobre o tal romance. O que ela descobre é, sem dúvida, precioso para uma jovem mulher que se encontra meio perdida na vida e que precisa de um empurrão para seguir no caminho certo, mas para nós, leitores, é igualmente preciosa a história que aos poucos se revela - a de um amor em que um dos protagonistas decide deixar o seu desenlace nas mãos do destino.

As personagens não são muitas, mas para preencher esse vazio, quase que me dá a sensação que o autor criou um conjunto de personagens silenciosas que enriquecem a história e dão cor aos livros de que tanto gostamos – as livrarias. Paulina visita imensas livrarias (depois perceberão porquê) e até há uma pequena passagem sobre a Livraria Lello que não posso deixar de partilhar:


«Paulina nunca tinha visto uma livraria com uma fachada tão imponente como a da Lello. Um edifício neogótico singular, com acabamentos modernistas de pedra esbranquiçada. Pareceu-lhe mais uma igreja do que uma loja.  No entanto, ela estava ali com uma ideia, e naquele momento de obsessão não tinha tempo para contemplar os pormenores arquitectónicos. Porém, quando entrou, a primeira vista de olhos minava toda a livraria lembrou-lhe a escadaria do Titanic que tinha visto num livro que tinha em casa. Era uma escada senhorial, com essa forma nobre de envelhecer que a madeira escura tem. Depois, quando levantou a cabeça e viu a grande curva da escada, como um bicho de conta gigante a espreguiçar-se, ficou extasiada. Com as indicações em português, não teve problemas para se orientar. Aquilo que procurava tinha de estar no primeiro andar. Ao chegar lá, apercebeu-se que a escada tinha uma barriga que parecia mágica, como se estivesse suspensa no vazio. O teto, um vitral de cores de ponta a ponta, era outra obra de arte que iluminava toda a Livraria Lello & Irmão.»

O que poderia ter sido uma simples e banal história de amor, Xavier Bosch conseguiu transformar numa pequena pérola para os amantes de livros, como eu. A não perder!

«- Sabes como é que chamam no Egipto a uma biblioteca? (…) O tesouro do remédio da alma.»

P.S. Adorava fazer uma viagem a visitar todas as livrarias que Paulina visitou. Que itinerário maravilhoso seria!!


Para mais informações sobre este livro podem visitar a página do mesmo no site da Marcador.

Em www.bertrand.pt

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