Opinião: "Uma Educação" de Tara Westover

Julgo ter chegado finalmente à conclusão sobre o meu género de livro favorito: os que são autobiográficos, ou baseados em histórias reais, como este que agora comento ou O Castelo de Vidro de Jeanette Walls. Histórias de vida diferentes, algumas bem chocantes, mas focando-se na superação, nos sobreviventes, pessoas como nós que ultrapassaram dificuldades quase intransponíveis, que venceram quando as suas hipóteses de vencer eram mínimas. São esses os livros que ocupam um lugar especial no meu coração. 

Este livro, como podem adivinhar é autobiográfico. Tara Westwood é uma mulher que entrou pela primeira vez numa sala de aula quando já tinha 17 anos. Vinda de uma família que sobrevivia "fora do sistema", Tara não teve uma certidão de nascimento até aos 9 anos, nem sequer sabia o dia do seu nascimento. Era a oitava filha de um pai que advogava o fanatismo religioso e a aproximação do Fim do Mundo, para o qual tinham de estar preparados, e de uma mãe que se mantinha (quase sempre) do lado do marido. Aos 10 anos, a jovem Tara já trabalhava na sucata do pai junto dos seus irmãos. Sujeita às piores condições de trabalho, chegando a correr riscos inadmissíveis, e achando que era esse o seu destino ao qual não poderia nunca fugir.


Mas apesar da inacreditável história da vida de Tara ser extremamente real, e nos ser contada neste livro, não é na verdade o tema de fundo. Esse, para mim é como a sede pelo conhecimento lhe abriu as portas, e como as dificuldades que uma pessoa tem de ultrapassar quando quer superar os seus traumas e as crenças que lhe foram incutidas quando criança, e cortar o último pedacinho de cordão umbilical que a une à sua família. Imaginam o quão difícil isso é? Não é apenas crescer e amadurecer. É voltar as costas a tudo o que nos é familiar, a tudo o que nos é querido.

Foi o processo que Tara teve de enfrentar, e que connosco partilha neste livro.

É uma história de vida impressionante, escrita de uma forma pungente, sem pretenciosismos nem dramatismos. Simples, como ela própria. Tara é uma mulher que dificilmente esquecerei. Um exemplo de superação para todos. 

Mais um livro candidato a Melhor do Ano na minha lista de leituras de 2021!


Deixo-vos a sinopse:

Quando um percurso de transformação pode ser um percurso de traição

Tara Westover cresceu a preparar-se para o Fim dos Tempos, para ver o Sol escurecer e a Lua pingar, como que de sangue. Passava o verão a conservar pêssegos e o inverno a cuidar da rotatividade das provisões de emergência da família, na esperança de que, quando o mundo dos homens falhasse, a sua família continuasse a viver.


Não tinha certidão de nascimento e nunca pusera um pé na escola. Não tinha boletim médico, porque o pai não acreditava em médicos nem em hospitais. Não havia quaisquer registos da sua existência.
O pai foi ficando cada vez mais radical com o passar do tempo, e o seu irmão, mais violento. Aos dezasseis anos, Tara decidiu educar-se a si própria. A sua sede de conhecimento haveria de a levar das montanhas do Idaho até outros continentes, a cruzar os mares e os céus, acabando em Cambridge e Harvard. Só então se perguntou se tinha ido demasiado longe. Se ainda podia voltar a casa.

Uma Educação é a história apaixonante de uma mulher que se reinventa. Mas é também uma história pungente de laços de família e de dor quando esses laços são cortados. Com o engenho dos grandes escritores, Tara Westover dá forma, a partir da sua experiência singular, a uma narrativa que vai ao cerne do que é a educação e do que ela nos pode oferecer: a perspetiva de ver a vida com outros olhos e a vontade de mudarmos.

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