Não conhecia a autora, Magda Szabó, mas tão cedo não irei esquecê-la. Faleceu em 2007 e foi uma importante escritora húngara e uma das vozes mais importantes da Literatura europeia do século XX. Em 1948 publicou dois livros de poesia, mas a seguir, por razões políticas, a censura não lhe permitiu publicar mais nenhuma obra. Mais tarde, em 1958 conseguiu voltar à cena literária, e publicou romances, género em que ficou conhecida.
O mais famoso desses romances é A Porta, o livro que agora vos trago.
O que faz um grande escritor ou uma grande obra, perguntamo-nos tantas vezes, sem nunca conseguir responder concretamente à pergunta. Este livro é um bom exemplo para iniciar uma discussão sobre esta questão. Como é possível um livro com uma história tão banal, tão estranha, tão simples, se revelar uma obra tão monumental? Não sei responder. E aposto que vocês também não. É o segredo de um bom escritor.
Com um tom algo intimista, quase confessional, a autora conta-nos a história de duas mulheres húngaras que desenvolvem uma estranha amizade nos anos do pós-guerra. Uma delas é Magda, uma jovem escritora, e a outra a sua empregada Emerence.
A grande protagonista da história é Emerence, uma das personagens mais estranhas e enigmáticas com quem me cruzei. Longe de se revelar a camponesa analfabeta que na realidade é, Emerence demonstra ter uma nobreza de espírito e um altruísmo nada convencional. Todo o seu comportamento é levado ao extremo, quer para o bem, quer para o mal. A relação entre as duas mulheres é algo que ultrapassa a lógica da amizade, mas que nos leva a refletir.
Acredito que algures, entrelinhas, a autora nos está a contar uma outra história. Uma história mais crua e triste, sobre a sua própria experiência com a política do seu país. Talvez por essa razão A Porta se tenha tornado num dos seus mais importantes romances.
Recomendo. Foi uma leitura surpreendente.
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