"Não digas a ninguém" de Luísa Castel-Branco


Não existem segredos inconfessáveis nem perdões impossíveis

Sinopse:
Beatriz, Rita e Samuel são amigos desde a infância, tendo as suas vidas seguido rumos diferentes: a primeira é casada, mãe de três filhos e um casamento (aparentemente) feliz; a segunda, separada, com um namorado ausente e uma filha problemática; Samuel, casado e com dois filhos adolescentes, vive a imagem da família tradicional. Quando os três amigos decidem passar uns dias juntos, não imaginam até que ponto as suas vidas podem mudar.

O aparecimento de uma mulher misteriosa, Benedita, vai transformar o que deveria ser um fim-de-semana tranquilo numa descida ao inferno, onde cada uma das personagens é confrontada com os seus medos e desejos proibidos.

Luísa Castel-Branco regressa ao romance e surpreende os leitores com esta fábula moderna em tom de crítica social, que é também uma história sobre os afectos, o valor da amizade e o poder do amor e do perdão.

A minha opinião:
Comecei esta leitura meio a medo, com um pé atrás, confesso, pois o registo da história de acordo com a sinopse, não era em nada semelhante ao “Alma e os Mistérios da Vida”, livro que adorei. E sinceramente, histórias sobre “tios” e “tias” com muitos “tá bens” e “não sei quês”, e um certo nível social como crachá, não me apelam. Mas por ser da mesma autora, e porque gosto sempre de dar uma oportunidade aos livros, entrei na leitura.
Cedo me apercebi que havia algo mais para lá do óbvio, e bem depressa a leitura se tornou imparável.

Não gosto de adiantar muita informação sobre a história e prometo que não vou fazê-lo mas, há uma espécie de comparação que não posso deixar de fazer. A quantidade de personagens, as relações entre elas, o ritmo alucinante de acontecimentos assombrados por uma estranha tempestade… tudo me trouxe à ideia o “Sonho de Uma Noite de Verão” de Shakespeare. Simplesmente fantástico!!

Outra coisa absolutamente magnifica, são as pequenas pérolas de sabedoria que a autora espalha pelo texto. Tenho de transcrever uma passagem belíssima, que nos fala da verdadeira amizade (em especial para ti, Ana!):

«A amizade pode tomar muitas formas. Ou, melhor dizendo, a adulteração da palavra desvirtuou o seu sentido original. Tempos houve em que era um bem maior, uma força que unia seres humanos até ao leito da morte. Mas não nos tempos que correm.
As amizades, tal como as relações afectivas ou laborais, revelavam-se cada vez mais precárias, mais descartáveis e, simultaneamente, mais vazias de conteúdo; passaram a ser sinónimo de momentos partilhados entre determinadas pessoas, em determinadas circunstâncias, e tão só isso. Contudo, sobravam as amizades da infância. Essas pareciam ser o último reduto do conceito antigo da palavra, da profundidade do sentimento.
Nem todas sobreviviam ao passar dos anos, aos casamentos, divórcios, à mutação que cada ser humano conhece ao longo da vida. Mas quando tal acontecia, tratava-se sem dúvida de um bem maior.
Era como que magia, não a do amor, mas algo muito semelhante que permitia dois seres humanos lerem um no outro como um livro aberto, reencontrarem-se por vezes passado um largo tempo e retomarem a conversa que tinham abandonado no exacto dia em que se despediram num qualquer café, num jantar, não importa onde.
O verdadeiro valor da amizade só é do conhecimento daqueles poucos que a possuem, que abrangem o verdadeiro significado da palavra e a amplitude do seu alcance. Porque quem tem um amigo nunca viverá só. Nunca morrerá só.»

Este livro é sem dúvida uma fábula soberba, onde a importância da amizade e do amor se sobrepõe a tudo o resto. Magnífico!

P.S. Tenho no entanto de fazer uma ressalva. Não ao trabalho da autora, mas da editora. É impressionante o tipo de erros que encontrei e que me dificultaram a leitura.
Numa história onde logo no princípio temos de aprender o nome das primeiras 12 personagens, há que ter um pouco mais de atenção.
Dois exemplos:
Pág. 65, linha 30: -Carmo, vou contigo.”
Não existe nenhuma Carmo, nem antes nem depois. O nome que aqui deveria estar era Graça, que não é sequer remotamente parecido.
Pág. 97, nos primeiros 2 parágrafos aparece Beatriz por duas vezes, quando na verdade se fala de uma Benedita. Aqui sinceramente muito contribuiu para a confusão da história, uma vez que existe mesmo uma Beatriz.
O mesmo acontece na pág. 168, linha 12: em vez de Rita, escreveram Matilde, que é a filha de Rita.

Um pouco mais de atenção, é o que se pede à editora. Afinal, o livro que li já vai na 2ª edição, e erros destes são inadmissíveis.
Em www.bertrand.pt

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