Uma das coisas que mais me fascina nos livros que leio é a
forma como cada autor escreve. As impressões digitais que deixa no texto, o seu
cunho pessoal que fica a pairar em redor de nós, à medida que vamos desbravando
a história.
E é sempre muito mais saboroso quando tenho a oportunidade
de o encontrar num texto genuinamente português.
João Ricardo Pedro é sem dúvida um autor a seguir de perto.
Neste seu romance de estreia deixou-me de água na boca, e espero poder desfolhá-lo
novamente, muito em breve.
A história que circunda uma família desde o tempo do Estado
Novo, está organizada de uma forma algo estranha. Original sem dúvida. Interessante,
talvez. Ficará ao vosso critério.
Tudo começa bem no primeiro capítulo. Mergulhamos na
narrativa e deixamos a história infiltrar-se em nós. Depois,
subitamente no segundo capítulo, algo estranho se passou. Será que isto afinal são
contos? perguntei a mim própria. A resposta rapidamente se me assomou aos
olhos. Não. Seriam talvez histórias independentes com os diversos membros daquela
família. Histórias que mais tarde ou mais cedo se vão interligar, dando origem
a uma bela e original manta de retalhos.
Mas, como disse no início, é a maneira como João Ricardo
Pedro escreve que me arrebatou: por vezes crú, muitas vezes rude, mas maioritariamente com o desvelo de um poeta.
Deixo aqui um pequeno extrato, um exemplo de como a
simplicidade na escrita é também ela uma forma de arte. E num pequeno parágrafo
se descreve uma vida.