Sabe sempre bem ler em português, mas é ouro sobre azul quando a escrita é apurada. Ana Saragoça possui a mesma mestria de brincar com as palavras que destaca os grandes escritores dos demais.
A história está muito bem conseguida. Não se assumindo como um policial, porque no fundo não o é, capítulo sim, capítulo não, são-nos apresentados os testemunhos captados pela mente astuta de um polícia que apenas conhecemos pelas palavras das próprias testemunhas. Nos capítulos intercalados ficamos a conhecer intimamente a vítima na primeira pessoa.
A ação desenrola-se à volta um assassínio no elevador de um prédio em Lisboa e o mistério vai-se acentuando à medida que a história avança. Mas é na forma como vamos desvendando a vida de cada um dos habitantes daquele prédio que está a verdadeira riqueza deste livro. Mudando de tom e de forma de falar, somos apresentados a uma mão cheia de figuras que são no fundo um retrato muito fiel da população lisboeta.
Pontuada com algum sarcasmo e uma pitada de humor quase negro, a escrita desta autora é uma surpresa muito agradável. Um livro a não deixar de ler e um nome a não perder de vista no panorama literário português - Ana Saragoça.
Sinopse:
Um prédio. Uma morte. Um mistério. Não se trata, porém, de um romance de pretexto policial. É verdade que há polícias e testemunhas - sobretudo testemunhas - e alguns suspeitos. Mas Todos os Dias são Meus é um extraordinário retrato do Portugal profundo, com os seus tiques, os seus ressentimentos, os seus ridículos.