Existem livros que são simples de ler. Interpretam-se bem,
as suas personagens são transparentes e o enredo entende-se logo nas primeiras
páginas. Mas a verdade, é que se todos os livros fossem assim, ler não teria
tanta piada.
Este não é um livro fácil. Não que não esteja muitíssimo bem escrito, pois está. A dificuldade estará talvez nas
personagens. As que são reais, e as que não são, incluindo os cães. Ou talvez
esteja no enredo, cujo emaranhado de fios se mistura e nos baralha, dando-nos uma boa percepção de como se encontra a mente de Caddie (Cadence).
Se partimos do pressuposto que algo aconteceu no verão 15
(quando Caddie tinha 15 anos) tudo se torna mais fácil de entender. As peças do
puzzle vão sendo colocadas no lugar, e quando chegamos ao final conseguimos ver
o quadro todo. E é assombroso.
Para mim, a verdadeira preciosidade deste livro está, no
entanto, nas subliminares críticas às famílias que vivem de aparências. Às famílias
que colocam acima de tudo o orgulho, o nome e o suposto poder que advém da sua antiguidade. Esse grupo de pessoas que sobrevive em detrimento dos sentimentos,
da verdade e dos demais.
Também por cá existem deste género de gente. Gente sem
escrúpulos, que prefere fingir não sentir do que dar largas aos seus
sentimentos e ser felizes. Encontramo-los por todo o lado.
Beachwood Island |
Cadence nasceu e cresceu numa família deste género. Passava
todos os verões junto com os seus primos na ilha da família. Até que no ano em
que fez 15 anos algo aconteceu. Algo que ela não se lembra, mas que lhe causou
um trauma tremendo e a fez embarcar numa viagem de sofrimento e de dor.
Agora, passados alguns anos, ela está de volta à ilha, numa
tentativa de resolver os seus problemas. Será que vai acabar por conseguir
destrancar o baú da sua mente ou vai continuar a esconder-se por trás das
mentiras que sua família criou à volta dela?
Gostei muito. Muito mesmo! Um livro diferente que acabou por mexer
imenso comigo.
Recomendo.
P.S. Adoro a capa. Consigo perfeitamente ver Caddie a enviar mensagens aos seus primos. Um perfeito simbolismo para os emails sem resposta que ela enviou.
Podem começar a ler as primeiras páginas aqui.
Podem começar a ler as primeiras páginas aqui.