Terminei hoje esta leitura que tanto prazer me deu. Luísa
Castel-Branco, a quem tive o prazer de conhecer recentemente e cuja entrevista
irei publicar em breve, escreve com a mestria de uma alma intemporal. Neste “Estranho
Lugar para Amar” encontrei a mesma cadência de um dos meus livros favoritos de
sempre, o “Alma e os Mistérios da Vida”. Embora já nos tenha provado ser-lhe
fácil escrever qualquer género, revisitar este tipo de história é quase como
voltar a casa após prolongada ausência.
Não conhecia a história do Colmeal. Escondida por entre as
páginas da história, não é fácil descobrir o porquê do abandono desta pequena
aldeia. Mas com a ajuda de Luísa Castel-Branco, acabamos por entender como foi
possível acontecer o que aconteceu.
«No concelho de Figueira de Castelo Rodrigo ficava a aldeia
do Colmeal, um povoado com 14 famílias de origens antigas. O fado da aldeia
ficou ditado no início da década de 40 com a chegada de uma nova proprietária.
As disputas entre a enigmática fidalga e os camponeses desencadeiam o processo
de expulsão violenta de todos os habitantes, processo que consta até hoje como
uma das páginas mais negras do período da ditadura portuguesa.»
A autora pega nesta história e conta-a acrescentando algum
romance e muita fantasia. Temos então dois locais, a aldeia do Colmeal e um
lugar diferente conhecido só por alguns, como o Sítio. O Sítio é talvez o lugar
onde todos gostaríamos de viver. Um local sem ódios nem invejas, onde reina a
pureza do coração e a bondade. Um local interdito, a que apenas conseguem
aceder alguns. Na história que Luísa Castel-Branco nos conta, a ação vai
saltitando entre um lugar e outro, e o que acontece no primeiro acaba por
afetar o segundo. Esta assimetria entre o real e o surreal, entre o verdadeiro
e o imaginário, acaba por ser a maior beleza deste livro.
As personagens, tanto as que povoam a aldeia do Colmeal como
as que povoam o Sítio, são extremamente verosímeis e algumas são tão odiosas quanto
as outras nos conquistam com a facilidade de uma borboleta. Gostei
especialmente de Alva, e do seu amado Tadeu, quais Romeu e Julieta de terras
portuguesas, e de Cisne, cuja pureza de coração me encantou. Mas também adorei
conhecer o Zé da Bernarda e a Ti Deolinda, gente simples mas plena da sabedoria
que caracteriza os mais velhos, principalmente aqueles que sabem ver o mundo
com outros olhos.
Sim, porque é sempre necessário sabermos olhar para a vida
com outros olhos para a podermos viver plenamente.
Numa palavra: adorei.
Obrigada Luísa por mais um livro excelente!