Um bacha posh é
o terceiro género de criança que podemos encontrar no Afeganistão. Significa literalmente
“vestida como um rapaz” e trata-se na realidade de uma rapariga que é
apresentada ao mundo como um rapaz e será criada como tal até perto da sua
puberdade. Desta forma, e de uma maneira completamente natural e aceite por todos, ela terá as
liberdades permitidas exclusivamente ao sexo masculino, podendo usufruir de uma
educação escolar em pleno e até trabalhar para ajudar a família.
Este costume,
impensável para nós, ocidentais, é praticado às escondidas, mas ao mesmo tempo com o
conhecimento de todos. Não há ninguém que não conheça alguém que foi bacha posh ou que tenha um familiar que o foi.
Este livro, segue a vida de
algumas dessas mulheres, cujas famílias necessitavam de um rapaz e que as fez crescer
como tal, para depois chegarem à idade adulta e subitamente se transformarem
nas mulheres e mães submissas, como as suas congéneres. É um costume muito
antigo que ressurgiu por necessidade. A sociedade afegã é uma sociedade patriarcal.
Ali, as mulheres não têm direitos, apenas deveres. Servem apenas de moeda de
troca para os seus pais, que podem fazer um bom negócio ao dá-las para
casamento. Conhecido como um dos piores locais do mundo para se nascer mulher, há
uma forte pressão para que dêem à luz filhos varões, sendo que dando à luz
apenas meninas, são ainda mais empurradas para baixo na precária hierarquia
social. Essa é uma das razões para a pratica dos bacha posh. Simultaneamente, é também uma crença das mulheres afegãs, que o ver diariamente um filho
ajuda a produzir mais filhos, pelo que não é incomum que após uma filha ser
transformada em filho, os próximos filhos do casal sejam rapazes.
Mas e quais são as consequências
para essas meninas que quando chegam à puberdade se vêm privadas da liberdade
que até então gozaram, e são obrigadas a abandonar os maneirismos e o tipo de vida que
lhe era concedida enquanto rapazes, e transformar-se radicalmente em mulheres
submissas e subordinadas às vontades dos outros (pais, maridos e sogras)? Muitas
rebelam-se contra a família, mas a grande maioria resigna-se a uma vida
infeliz, sentindo-se fraudes, não se sentindo mulheres nem homens, mas algo
vago ali no meio. Todas concordam que os melhores tempos das suas vidas foi
quando eram bacha posh.
Este é um livro
extraordinário e original sobre a sociedade afegã e a prática escondida do bacha posh. Adorei! É sem dúvida um trabalho de reportagem
fenomenal.
Recomendo.