Sabes que um livro é muito bom quando te emociona.
Sabes que um livro é extraordinário quando tens de interromper a leitura por diversas vezes para processar o que estás a ler. Este foi assim.
Os livros da Jodi Picoult são sempre assim. Eu já devia estar preparada. Até pela leitura da sinopse dá para perceber que não vai ser uma leitura fácil. Mas a verdade é que eu não estava preparada. Não estava minimamente preparada. Esta leitura fez-me sentir como se estivesse prestes a ser sugada por um tornado ou fustigada numa tempestade tropical que de repente se transformou em furacão. Tudo voa à nossa volta e quase não conseguimos mantermo-nos em terreno estável. É impressionante o que a leitura de um livro nos pode fazer. A sério. Este ultrapassou mesmo todas as minhas expectativas.
O tema é forte. Envolve a morte de um bebé, uma família supremacista branca, e claro, uma enfermeira afro-americana e a sua família. Poder-se-ía dizer que o tema principal é o racismo. E não estaria propriamente errado. Mas na realidade, e é aqui que Jodi Picoult se torna numa autora de excelência, o que está em causa é a equidade. Não a igualdade, pois essa nem sempre é justa, mas sim a equidade.
E o que é a equidade? Se forem à Wikipédia encontram a seguinte definição:
«Equidade consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça e igualdade.»
Sabem aquela máxima? Uma imagem vale mais que mil palavras...
Na primeira foto temos uma situação de igualdade. Todos os meninos receberam um caixote do mesmo tamanho para poderem ver o jogo. Mas a verdade é que o resultado não é justo. O menino mais pequeno não consegue ver nada.
Na segunda foto temos uma situação de equidade, em que todos recebem as ferramentas de que precisam para estarem em pé de igualdade.
Dá para perceber bem o que é a equidade?
Mas, e o que tem a equidade a ver com este livro de Jodi Picoult?
Como ela muito bem explica nas suas notas finais (Quase tão boas quanto o próprio livro! Eu sei que há quem não as leia. Com estas, não deixem de o fazer.), demorou algum tempo para perceber que, como em quase tudo na vida, existem dois tipos de racismo. O ativo, como as personagens supremacistas brancas da história, e o passivo, como ela própria, e, na verdade, a maioria de nós. Ou seja, aquele que não faz nada mas que usufrui das vantagens de não ser negro e, obviamente, nem o reconhece. Ao tornar-se consciente desta diferença, Jodi Picoult sentiu que tinha de escrever um livro destes. Polémico, com toda a certeza! Mas verdadeiro e vindo do coração. Ela confessa que demorou alguns anos a conseguir ganhar coragem e as bases certas para o escrever, mas finalmente a oportunidade chegou quando se deu o acontecimento que dá início à história. (Sim, a história da enfermeira aconteceu mesmo!)
E não podia ser em melhor altura, dado os recentes acontecimentos neste nosso Mundo e principalmente nos E.U.A.
Também não posso deixar de mencionar o quanto adoro o título e que não fazia ideia que onde ela o tinha ido buscar. Vi numa entrevista que foi "criado" com base numa das citações atribuídas a Martin Luther King Jr.:
Se eu não puder fazer grandes coisas, posso fazer pequenas coisas de uma forma grande.
Este livro é um verdadeiro abre-olhos. Não podem mesmo deixar de o ler.
Para mais informações sobre este livro podem espreitar a página do mesmo no site da Editorial Presença.