Ando um pouco atrasada nas opiniões e não há meio de as
escrever. É que ler é sempre tão mais apetecível… e os livros atiram-se-me para
o colo! 😉 Mas
para já, aqui fica mais uma.
Este livro de que agora vos escrevo, “As Mulheres no Castelo”
ia escapando ao meu escrutínio. Passei pela capa duas ou três vezes e não me
senti cativada. Não sei se do título ou da própria capa… mas faltava ali qualquer
coisa. No entanto, veio-me à ideia o ditado, não julgues um livro pela sua capa, e acabei por apostar na sua
leitura. E, acreditem, bendita a hora em que o fiz, pois o livro veio preencher
um nicho de conhecimento que me faltava.
Já todos nós lemos histórias sobre a Segunda Guerra Mundial,
ou que tenham a mesma como pano de fundo, mas nunca apanhei um livro que me
contasse sobre a Alemanha do pós-guerra. A Alemanha do Stunde Null (a hora
zero) = termo que descreve o ano de 1945 em que aconteceu o quase colapso da
nação. A Alemanha então ocupada pelas forças aliadas, que viria a ser organizada
e administrada pelas mesmas.
“As Mulheres do Castelo” é uma história baseada em factos
verídicos e esse foi um dos fatores que me levou a querer lê-la. A sinopse prometia:
«Marianne von Lingenfels, volta ao castelo abandonado, dos
antepassados do marido. Para cumprir a promessa que fez aos corajosos
companheiros do marido: encontrar e proteger as suas mulheres no meio das
cinzas da derrota da Alemanha nazi.»
A história está extremamente bem contada e a encantadora escrita de Jessica Shattuck conquistou-me logo nos primeiros parágrafos. Mas as personagens, meus amigos, as personagens são maravilhosas. Três mulheres, perfeitamente enquadradas nas épocas que representam - o antes da Guerra, o durante a Guerra e o pós-Guerra. Três mulheres que se revelam tão humanas quanto nós, cheias de falhas, dúvidas e até desespero. Mulheres que foram destituídas de todas as virtudes e certezas, e que por vezes apenas se mantêm de pé por causa dos que lhes chamam mãe. Essas crianças a quem foi roubada a infância e que aos poucos tentam entender o seu papel num país que vai demorar algum tempo a reerguer-se e no qual elas próprias vão ter um papel fundamental.
Já li imensos livros sobre o Holocausto e a Segunda Guerra,
mas nenhum deles conseguiu responder, nem em parte, à pergunta que todos já nos
colocámos: como foi possível um povo deixar-se levar pela loucura de um homem?
Pois Jessica Shattuck conseguiu-o, a meu ver. Ao terminar a leitura deste livro
senti que essa pergunta foi de alguma forma respondida. Não existindo nenhuma
tentativa de desculpabilização, o povo alemão é-nos apresentado como um povo
que foi conquistado com falsas promessas, levado a acreditar no que queriam que
ele acreditasse e mesmo quando a verdade lhe entrava casa a dentro, desviava o
olhar. Um povo que mais tarde, mesmo ao seu confrontado com imagens dos campos
de concentração se recusava a acreditar que aquilo tinha acontecido e cria ser
apenas propaganda dos vencedores.
Ao fim e ao cabo é disso que trata “As Mulheres no Castelo” –
a forma como um conjunto de indivíduos conseguiu aceitar a culpa e a
responsabilidade do horror que aconteceu e simultaneamente seguir em frente.
Cada um com a sua história, com os seus traumas e a sua redenção.
Se acham que já leram todos os livros sobre a Segunda Guerra
Mundial, acreditem, têm espaço para mais este. As Mulheres no Castelo deveria
ser uma leitura obrigatória para que nunca se esquecesse como é fácil abusar do
poder em prol do mal.
Um livro absolutamente extraordinário!