Esta foi daquelas leituras que dá pena terminar. Ficamos com saudades das personagens, gostaríamos de saber mais, de continuar a acompanhá-las no seu dia a dia. E por isso, muito depois de virarmos a última página, pensamos nelas, e imaginamo-las, cristalizadas naquela última cena, mas a seguir com a sua vida.
Muitíssimo bem escrito, conta uma história dentro de outra história, sendo que os livros são as silenciosas personagens em comum. É uma história que nos prende desde a primeira página. Uma simples e doce narrativa que contempla a Europa em tempos diferentes. O início do século, quando a ação se desenrola maioritariamente em França e Inglaterra, e posteriormente numa Espanha pós guerra, onde ainda se fazem sentir as repercussões das garras de Franco. Ambas as épocas se intercalam, até que o tempo se une e as duas histórias se entrelaçam.
Tudo se inicia em 1951 quando uma mulher inglesa que vive em Madrid, descobre uma pequena e humilde livraria numa rua escondida da capital. Sem muito mais que fazer, ela acaba por ficar a conhecer a mulher do dono da loja, e ao perceber as suas dificuldades, começa a ajudá-los de uma forma inusitada. A amizade que cresce as duas surge quando começam a ler um livro em conjunto, duas tardes por semana, quando o marido se ausenta. O livro que lêem é biográfico, e ambas ficam enredadas na história da pequena dos cabelos de linho à medida esta vai crescendo e descobrindo o mundo, que afinal é muito maior do que a pequena aldeia onde cresceu na Normandia. E a narrativa saltita assim entre histórias e épocas, apanhando o leitor desprevenido, mas fascinando-o simultaneamente.
E é exatamente na simplicidade da narrativa que encontramos a maior beleza deste livro. E quase sem darmos por isso, abordamos temas tão importantes como a perda, a dor, o amor e a amizade. E sofremos com as personagens. Torcemos por elas, mesmo sabendo o fim a que estão destinadas.
Foi uma leitura maravilhosa. Um livro que não sei bem como me escapou até agora. Oferta de uma amiga, que ficou na estante demasiado tempo. Obrigada, C.
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Sinopse:
A Vida Quando era Nossa é um tributo à literatura, mas é sobretudo uma história de amizade entre duas mulheres. Uma história que começa quando se abre um livro e que só termina quando todas as pontas da narrativa se unem.
«Tenho saudades do tempo em que a vida era nossa», diz Lola, a protagonista do romance. Sente falta da sua vida, tão cheia de esperança, feita de livros e conversas ao café, sestas ociosas e projetos de construir um país. A Espanha que, passo a passo, aprendia as regras da democracia.
Mas, em 1936, chega um dia em que a vida se transforma em sobrevivência e agora, passados quinze anos, a única coisa que sobra é uma pequena livraria, meio escondida num dos bairros de Madrid, onde Lola e Matías, o marido, vendem romances e clássicos esquecidos.
É nesse lugar modesto que, em 1951, Lola conhece Alice, uma mulher que encontrou nos livros uma razão para viver. Acompanhamos a amizade entre as duas, atrás do balcão a lerem o mesmo livro juntas, e isso leva-nos atrás no tempo, à Londres do início do século XX, para conhecermos uma menina que se perguntava quem seriam os seus pais…
Sobre a autora:
Marian Izaguirre nasceu em Bilbau. Trabalhou em comunicação, como jornalista, e em marketing, ao mesmo tempo que escrevia livros. É autora de seis romances e vencedora de vários prémios.
Podem começar a ler o livro aqui.