Opinião: "A Tatuadora de Jaipur" de Alka Joshi

Esta foi uma leitura extraordinária! Adorei embarcar na história de Lakshmi, uma mulher que decidiu fazer o impensável, largar o marido abusador e fazer-se à vida. Numa época onde a Índia acabava de sair do jugo britânico, e onde as mulheres que abandonam o lar são um estigma para si e para as suas famílias, ela conseguiu reinventar-se, tornando-se numa famosa tatuadora de hena das mulheres mais ricas de Jaipur. 

Ela é recetáculo dos seus segredos e desejos, ajudando-as de todas as formas possíveis, utilizando para isso os conhecimentos de curandeira que lhe forma passados pela sogra. Mas, como em todas as histórias, não há bela sem senão, e o passado acaba por ressurgir no presente de Lakshimi, baralhando-lhe a vida e trocando-lhe as voltas. 

Foi uma viagem maravilhosa. Intensa. Plena de cheiros e cores. Vibrei com cada conquista de Lakshimi e sofri com cada derrota. Terminei a leitura com os meus sentidos em alerta máximo, desejando continuar a ler sobre esta mulher tão fascinante e sobre o novo capítulo que decidiu encetar. Será que vai haver continuação? I wish. 

Opinião: "Ressurrecta" de Vic Echegoyen

Estava um pouco relutante em pegar neste livro. Afinal, era mais um estrangeiro a escrever sobre Portugal. Não podia estar mais equivocada! Vic Echegoyen escreveu com conhecimento de causa, e abordou o terramoto de 1755 de uma forma como nunca me cruzei. Minuto a minuto, ela descreve-nos o que foi acontecendo, tendo por base o estudo minucioso de inúmeras obras e textos, incluindo testemunhos escritos do que aconteceu.

Durante as 520 páginas, somos levados a todos os terríveis lugares deste acontecimento quase fatal para Lisboa. Juro que me senti a ver um filme. Fiquei presa à narrativa e só queria ler mais e mais. Nunca me senti enfadada. E mesmo depois do livro terminar, queria continuar a acompanhar a história, ver como o fantástico Carvalhão, o Marquês de Pombal, se dispôs a resolver a cidade de Lisboa.

Vic Echegoyen criou uma obra magnífica e completa. É notória a investigação que precedeu o processo de criação da obra, mas nem por isso a sua escrita deixa de ter uma simplicidade aguda, contrastando com a profundidade do acontecimento. Criou personagens muito fiéis à realidade, dos vários extratos da sociedade, trazendo ao de cima as diferenças sociais. Graças a ela, acho que não consigo olhar para Lisboa da mesma forma. E claro, se já gostava o Marquês de Pombal, agora admiro-o ainda mais.

(...) Cinco terramotos, três ondas gigantes, cem incêndios convertidos num (...)

Obrigada pela aventura, Vic Echegoyen!

Em destaque: "Uma Porta Estreita" de Joanne Harris

Os homens entram pela porta principal. As mulheres têm de improvisar.

Sinopse:
Durante os seus quinhentos anos de existência, nunca o elitista Liceu de St. Oswald permitiu a entrada do sexo feminino. Mas os ventos da mudança sopram com mais intensidade do que nunca. Pela primeira vez na história da respeitável instituição, uma mulher ocupa a função de reitora e os portões vão finalmente abrir-se de par em par para receber alunas.

Pode dizer-se que Rebecca Buckfast derramou sangue, suor e lágrimas (em sentido literal) para conseguir alcançar a chefia do liceu. Aos quarenta e três anos, está finalmente a colher os frutos da sua ambição. Mas tem ainda um potente inimigo a defrontar: a velha guarda, encabeçada pelo temível e quixotesco professor de Latim, Roy Straitley.
E a situação não melhora com as notícias do aparecimento de um corpo.

Mas Rebecca está determinada a deixar a sua marca. Mesmo que para isso tenha de enterrar os segredos do passado suficientemente fundo para que nem ela os recorde.
Pois este é o seu momento…
E ela está para ficar.

Nesta teia que se vai tecendo entre Rebecca e Straitley, quem é a aranha e quem é a mosca? E quem sairá vitorioso? Um romance de suspense psicológico explosivo e absolutamente surpreendente pela mão da talentosa Joanne Harris.

Sobre a autora:
Joanne Harris
nasceu no Yorkshire, de mãe francesa e pai inglês. Estudou Línguas Modernas e Medievais em Cambridge e foi professora durante quinze anos, mas a escrita é a sua verdadeira paixão. Do romance tradicional ao de fantasia, dos livros de culinária a argumentos para séries de TV ou teatro, Joanne Harris está feliz desde que esteja a escrever. A sua obra está atualmente publicada em quarenta países e foi galardoada com inúmeros prémios literários internacionais. Todos os seus livros integram o catálogo da ASA. Joanne Harris vive com o marido, Kevin, num pequeno bosque a cerca de vinte quilómetros do sítio onde nasceu.

Opinião: "Destino - Uma História Italiana" de Raffaella Romagnolo

Este é um livro brutal, não posso negá-lo, uma história possante, cheia de referências históricas habilmente misturadas com a história de uma comunidade em Itália, e de uma família de imigrantes nos Estados Unidos da América. No entanto, não foi uma leitura que me tenha conquistado por completo.

Senti que a história era composta por várias histórias, e à medida que ia lendo e me sentia envolvida no desenrolar do fio, de repente ele era cortado, e eu era levada para outra época, e outro lugar. Acabei por não conseguir entender a história como um todo, embora agora vos seja capaz de contar a história de Giulia Masca e da sua família e amigos, cujos laços se apertaram e cortaram, para depois se voltarem a enlaçar. Quase como uma manta de retalhos, só no fim da leitura é que vemos o resultado.

Gostei no entanto do teor histórico, muito bem desenvolvido a nível dos acontecimentos na Itália do final da Segunda Guerra. Gostava que a autora também tivesse desenvolvido um pouco mais a parte dos italianos emigrantes nos EUA.

É um livro que talvez tenha de dar uma segunda oportunidade daqui a uns tempos. Muito provavelmente a minha opinião será diferente.


Em destaque: "O País dos Outros" de Leïla Slimani

Da aclamada autora franco marroquina Leïla Slimani, uma atmosférica e inquietante saga familiar que põe em relevo uma mulher enredada entre duas culturas, dividida entre a dedicação à família e o amor à liberdade com que cresceu.

Sinopse:
Em 1944, Mathilde, uma jovem alsaciana, apaixona-se por Amine, um oficial marroquino que combate no exército francês durante a Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra, o casal muda-se para Marrocos e instala-se perto de Meknés. Amine dedica-se a recuperar a quinta herdada do pai, tentando arrancar frutos de uma terra pedregosa e estéril.

Enquanto isso, Mathilde começa a sentir o jugo dos costumes conservadores do novo país, tão sufocante quanto o seu clima. Nem a maternidade apaga a solidão que sente no campo, longe de tudo, num lugar que não é o seu e a verá sempre como estrangeira.

Sobre a autora:
Leïla Slimani nasceu em 1981, em Rabat, Marrocos, numa família de expressão francófona. Aos 17 anos partiu para Paris, onde estudou Ciências Políticas. Antes de se dedicar à escrita, trabalhou como jornalista. Publicou o primeiro romance — No jardim do ogre — em 2014 e obteve imediato reconhecimento da crítica e dos leitores, conquistando o Prémio Mamounia. Canção Doce reconfirmou o seu papel nas letras francesas e valeu-lhe a atribuição do prestigiado Prémio Goncourt, o mais importante prémio literário francês. Publicado em mais de quarenta países, e com mais de um milhão de leitores espalhados pelo mundo, Canção doce foi adaptado ao cinema e foi eleito um dos dez livros do ano pelo New York Times Book ReviewO País dos Outros é o seu terceiro romance e venceu o Grand Prix de l’Héroine Madame Figaro. Além dos romances, Leïla Slimani tem publicados vários livros de ensaio e opinião, a par da sua atividade cívica em defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Liderou uma campanha para ajudar as mulheres marroquinas a reclamar os seus direitos, o que lhe valeu o Prémio Simone de Beauvoir para a Liberdade das Mulheres. Os seus três romances estão publicados em Portugal na Alfaguara.

Opinião: "Eu sei o que vocês fizeram" de Dorothy Koomson

Embora este livro tenha um título semelhante ao de um filme, as semelhanças acabam por aí. O conteúdo, garanto-vos, não poderia ser mais diferente. E bem melhor, acrescento!

Dorothy Koomson pega num grupo de pessoas, vizinhos do mesmo bairro, e desenvolve a sua história logo após o alívio das restrições Covid. Todos sabemos como foi o período de confinamento - difícil para muitos, mais complicado para alguns. Mas todos passámos pelo mesmo. 

Neste bairro de Brighton, as Acacia Villas, houve quem se dedicasse a "conhecer" melhor os seus vizinhos, descobrindo os seus segredos, as suas relações e as suas motivações. 

Priscilla, moradora solitária no número 21, dedicou os últimos meses a espiar os vizinhos, tornando-se por isso na vítima perfeita para um homicídio. "Eu sei quem vai matar-me." - escreveu ela no seu diário. Mas saberia mesmo?

Gostei da forma como a autora nos apresentou a história. Por números de porta. Para além de Priscila, cujo número 21 fica extremamente bem posicionado para ver quase todo o bairro, temos no número 11 Rae, a personagem principal, casada com Clark e com duas filhas e duas cadelas. Já no número 24 vive Bryony, casada com Grayson, e também com dois filhos. No número 47 vive Lilly, antiga namorada de Clark, só por si um tensor para a relação de Rae e Clark. E temos ainda Dunstan, um polícia no ativo, que vive na vivenda a seguir à de Rae.

Adorei como Dorothy construiu as suas personagens. Tão reais e cheias de falhas, vulneráveis mas simultaneamente combativas, trocando-nos as voltas mesmo até ao fim. E os segredos que elas escondem? Infidelidades, violência doméstica, corrupção, e até negócios obscuros, relacionados com droga. Impressionante, acreditem!

Dorothy Koomson apresenta-nos uma história fabulosa. Um thriller inteligente, bastante sinuoso e original. Acreditem que vos vai dar cabo dos neurónios! :) Não deixem de o ler.

Em destaque: "A Tatuadora de Jaipur" de Alka Joshi

Sinopse:
Aos dezassete anos, Lakshmi foge de um casamento arranjado e ruma a Jaipur, a vibrante “metrópole cor de rosa”. É lá que se reinventa como artista, conseguindo tornar-se tatuadora de hena das mulheres mais ricas da cidade, que a buscam atraídas pelo talento mas também pelos seus poderes de curandeira e pela sua discrição como confidente. Mas embora muitos segredos lhe sejam revelados, os dela têm de permanecer guardados a sete chaves.

À medida que a popularidade de Lakshmi aumenta, também os seus esforços para proteger a reputação e a carreira se intensificam. A ameaça, porém, não tarda a bater-lhe à porta: o marido encontrou-a, tem um plano, e não está sozinho, vem acompanhado de uma menina de treze anos, Radha, a irmã que a Lakshmi não sabia ter.

Radha é curiosa e rebelde, uma “combinação perigosa” que preocupa Lakshmi. Agora que as vidas de ambas estão intrinsecamente ligadas, será ela capaz de manter a liberdade que conquistou a pulso e, ainda assim, proteger a irmã?

Exótico e envolvente, A Tatuadora de Jaipur é um retrato fulgurante de um país e de uma mulher. Há algo de mítico (e místico) na sabedoria ancestral de Lakshmi e na sua ânsia por liberdade numa sociedade que oscila ainda entre as velhas tradições e a modernidade, um mundo que é simultaneamente sumptuoso e fascinante, austero e cruel. Esta é uma história de amor-próprio e perseverança, de vingança… e perdão.

Sobre a autora:
Alka Joshi nasceu na Índia e foi viver para os Estados Unidos aos nove anos. Estudou Artes na universidade e dirigiu a sua própria empresa de publicidade e relações públicas. Já viveu em França e Itália, e atualmente reside na Califórnia com o marido.
Em www.bertrand.pt

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