Gostei tanto deste livro que nem sei bem por onde começar a falar dele. Tem tantas camadas, como as de uma cebola, e à medida que as vamos descascando, encontramos pormenores maravilhosos, e uma história que se vai modificando, engrandecendo. Adorei.
A pequena Esme, que conhecemos com a tenra idade de seis anos, é uma ávida devoradora de palavras novas, ou não fosse o seu pai um dos lexicógrafos que trabalha no primeiro Oxford English Dictionary. As palavras giram no seu mundo, e o seu mundo gira à volta de palavras.
Um dia, Esme encontra uma palavra perdida no chão do Scriptorium (o local onde o trabalho do primeiro dicionário é levado a cabo). É então que começa realmente a maravilhosa história do Dicionário das Palavras Perdidas.
Esme vai crescendo ao longo do livro, e em breve entendemos o que são as Palavras Perdidas. São palavras de Mulheres, a linguagem feminina que se vai perdendo ao longo dos tempos, por serem homens a decidir que palavras são importantes e qual o seu significado. São palavras que deixaram de ser usadas, inclusivé oralmente, ou cujo significado foi deturpado ou considerado obsceno. E muitas ficaram mesmo para trás.
Uma outra camada da cebola, é o movimento Sufragista. A autora consegue incorporar o tema com facilidade, pois acabamos por falar do mesmo problema de fundo - os direitos da mulheres. Embora Esme não se identifique totalmente com as Sufragistas mais extremas, ela concorda com a luta pelo direito ao voto. Porque não deverão ter as mulheres os mesmos direitos que os homens?
Finalmente, o que nos acompanha durante toda a narrativa, a própria vida de Esme. É sem dúvida uma vida algo recatada, à qual ela consegue dar alguma cor. Mas é simultaneamente uma história triste. Os caminhos que ela percorre, as escolhas que acaba por ter de fazer... É uma história linda mas também triste, uma mistura que marca a grande maioria das histórias que não esquecemos.
E realmente, posso dizer com toda a certeza, que esta é uma dessas histórias. Dificilmente esquecerei a doce Esme e o que está por trás do dicionário das palavras perdidas. Adorei.
P.S. Apesar de baseado em factos e personagens reais, a autora explica no final, que Esme, o seu pai e Lizzie, entre mais alguns, são pura ficção. Acima, a fotografia da equipa do Scriptorium, do Sir James A. H. Murray. E sim, há duas mulheres, as filhas do Sir Murray, cujo trabalho no dicionário, tal como o de outras mulheres, só foi muito dificilmente reconhecido.