Lucy Barton é uma das personagens centrais da obra de Elizabeth Strout. São já quatro os livros publicados em Portugal com Lucy na personagem principal. Li os quatro e adorei.
Adoro a escrita desta autora. Escreve com uma simplicidade camuflada, e a voz da personagem principal a soar-nos tão real que até parece que estamos a ler o seu diário.
Lucy é uma personagem maravilhosa. Com uma infância / adolescência difícil, ela é uma adulta simultaneamente frágil e guerreira. As suas considerações sobre os que a rodeiam, sobre o mundo, sobre as suas incertezas, os seus medos, refletem o que tantos de nós guardam e calam na alma.
Neste livro Lucy aparece-nos um pouco mais frágil, mais envelhecida. Talvez seja porque a história aborda uma altura difícil pela qual todos passámos recentemente - o período Covid. Foi muito interessante acompanhar a perceção de Lucy, e também do povo americano em geral, sobre a pandemia. Um pouco como nós em Portugal, mas um pouco diferente também.
Gostei muitíssimo que a autora tivesse escolhido dar voz a Lucy sobre este tema. Ela (Lucy) é uma mulher introspetiva, e as suas reflexões são uma verdadeira delícia de descobrir. Ela tenta colocar-se frequentemente na pele dos outros, o que é algo que devíamos fazer mais amiúde, não só para os compreender melhor, como para os aceitar mais facilmente. E muitos dos seus pensamentos refletem aquilo que muitos de nós pensaram durantes estes tempos conturbados. Muitas das suas experiências também. Foi bom conseguir ver isto à distância.
Fiquei a pensar numa coisa que ela disse no livro:
"E, então, este pensamento atravessou-me a mente:
Estamos todos em confinamento, a tempo inteiro. Só não temos noção disso.
Mas fazemos o melhor que podemos. A maior parte de nós está só a tentar aguentar-se o melhor possível."
Mais um excelente livro de Elizabeth Strout. Mais um que não desilude. Adorei. Recomendo.