"Exilados" de Manuel Arouca

É minha convicção que com os livros enriquecemos a nossa cultura, a nossa educação. Ao ler, amiúde constato o quão pouco sei sobre este ou aquele assunto e que muito mais gostaria de aprender.
Nâo é por acaso que uma das minhas últimas frases favoritas é: “Sei muito pouco sobre muito pouca coisa” pois quanto mais leio mais aprendo que assim o é.

Pertenço à geração que cresceu no pós 25 de Abril, e sinto que o pouco que sei sobre o assunto me dificulta o entendimento deste nosso povo, desta nossa maneira de ser.
Cresci influenciada por um pai que defendia Salazar, mas simultaneamente abracei o alívio de quem conseguia finalmente respirar de alívio, como o meu avô do lado da minha mãe, e cujas histórias, ouvidas em segunda mão, me enchiam de orgulho.
Não é portanto de estranhar que tenha adquirido o gosto da leitura de livros que abordem o tema, tentando colmatar a falha que houve na educação escolar, em que esses assuntos eram abordados em uma única página nos livros de História.
Felizmente têm sido comuns, ultimamente, as publicações de romances históricos que têm lugar num Portugal Salazarista, arrastando-se através do 25 de Abril e mostrando-nos o povo que daí nasceu.

Este livro, entretanto, fala-nos deste assunto, mas de uma perspectiva diferente.
Exilados são aqueles portugueses que com a revolução dos cravos se viram forçados a deixar tudo o que possuíam e a recomeçar de novo, longe de Portugal.
Falamos das famílias ricas com casa no Estoril, apartamento na Lapa, interesses na banca e em outras áreas de negócio importantes e com um grande peso no panorama social português. Esses mesmos que passaram então a ser apelidados de fascistas e que viram todos seus bens nacionalizados.
Mas falamos também dos seus fiéis funcionários, trabalhadores das ex-colónias, que sem saberem como, também tiveram de fugir daquela terra que aprenderam a amar e a chamar sua.
Ambos se reencontraram no Brasil, terra fértil em que para alguns tanto se assemelhava a Angola, mas que para todos se revestia de esperança.
É neste contexto que se insere Cecília, a protagonista principal desta história, uma mulher de força e carácter inabalável, assentes numa educação tradicional mas ao mesmo tempo revolucionária para aqueles tempos.
A história de amor que serve por base ao livro, torna-se quase como numa lição. Primeiro que nunca devemos desistir, e segundo que por vezes temos de pensar bem sobre as nossas prioridades, pois são elas que nos definem como seres humanos e nos fazem crescer.
É um livro muito interessante e bem construído.
Adorei as subtilezas na linguagem… o português com tons diferentes: o quente de Africa e o ondulante do mar brasileiro.
Muito bom!

Sinopse:

O brilho dos seus olhos tinha-a marcado para sempre. Cecília era casada com um homem que não amava, era herdeira do império financeiro Mendes Silva que se estendia até Angola e, sabia que a agitação política que se vivia em Portugal, depois da revolução do 25 de Abril de 1974, ameaçava fazer ruir o mundo em que vivia. Manuel Arouca traz-nos a história dos Exilados, dos muitos portugueses que se viram obrigados a abandonar Portugal, com destino ao Brasil, depois de verem nacionalizados os seus negócios, as suas contas bancárias congeladas e as suas casas ocupadas, com a Revolução dos Cravos. Ali encontraram um porto de abrigo, um país novo, com costumes diferentes, onde, do zero, tiveram de reconstruir as suas vidas. Quando desembarcou no Rio de Janeiro Cecília sabia que o futuro dos Mendes Silva estava nas suas mãos. Era ela que teria de recomeçar do nada. Mas entre a tentadora praia de Ipanema, o conhecido restaurante do Copacabana Palace, ou a imagem apaziguadora do Cristo Redentor Cecília não conseguia esquecer a imagem daqueles olhos marcados pela tragédia. Tinha de descobrir José, resgatá-lo da sua dor, estender-lhe a mão e, quem sabe, libertar-se das regras sociais que a estrangulavam, de um marido que a traía e a desrespeitava e aprender, de uma vez por todas, a ser feliz.
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