A história de "Meu" está muito bem contada. Narrada do ponto de vista da mãe, Sasha, transmite-nos na perfeição a sua desconfiança e frustração quando vê que não está a ser levada a sério por ninguém, incluindo o próprio marido. A sua impotência atingiu-me e levou-me a sentir raiva pelas instituições que em vez de defenderem as mulheres as atacam e / ou menorizam a importância das suas queixas. Fez-me lembrar um pouco aqueles casos de "histeria" que eram diagnosticados em mulheres e jovens "difíceis" nos séculos XVIII e XIX e cuja solução passava pelo internamento numa instituição psiquiátrica e tratamentos horríveis.
Para um livro de estreia, "Meu" está muito bem escrito. Ao que parece, numa das suas aulas de escrita criativa, o professor sugeriu que escrevessem sobre um sonho ou pesadelo, e foi o que a autora fez. Elaborou a história à volta de um pesadelo que teve sobre darem-lhe o bebé errado na maternidade, e segundo ela, toda a tensão psicológica foi fácil de transcrever pois sentiu-a na pele, acordando desse sonho com todos os sentimentos à superfície.
É um thriller psicológico que mexe fortemente com as nossas emoções. Atravessamos a leitura como se estivéssemos num túnel de vento, sempre a fustigar-nos com emoções violentas. Condoemo-nos por Sasha, e colocamo-nos facilmente na sua pele, levando-nos a experienciar a revolta e frustração que ela sente. Simultaneamente passa-nos de vez em quando um pensamento pela mente... e se não for bem assim? E se?...
Muito bom! Uma leitura que recomendo sem hesitações. Como sabem, um livro é bom quando nos provoca emoções fortes. E este é um desses!
P.S. Apesar do medo aquando do nascimento do meu filho não tinha mesmo de me preocupar. Pelo menos em relação a trocas. Não havia mais nenhum tão grande. 4,700 kgs e 54 cm. ;) Tinha praticamente 3 meses quando nasceu. Espreitam a foto dele com três dias.