Opinião: "A Biblioteca de Paris" de Janet Skeslien Charles

Como poderia eu não ler este livro? Dois dos meus temas favoritas conjugados - uma biblioteca especial e a ocupação de Paris pelos nazis na Segunda Guerra Mundial. Quase parecia ter sido escrito para mim!

Aquando dos meus tempos de estudante universitária, frequentava amiúde a Biblioteca Americana na Avenida Duque de Loulé, em Lisboa. Era um lugar simples e sossegado, onde eu gostava de estudar. De vez em quando consultava livros, ou requisitava um ou outro para levar para casa. Hoje em dia esse espaço já não existe, pelo menos no mesmo lugar. Foi por essa minha proximidade com uma biblioteca estrangeira em território nacional que não me admirei nada que este livro abordasse a história da Biblioteca Americana em Paris. Continuo a achar a ideia muito interessante. É uma forma de, não só de possibilitar ao conterrâneos americanos um contacto mais próximo com o seu país, como também ajudar os locais que queiram desenvolver a língua.

Bem, a história da Biblioteca de Paris, escrita por Janet Skeslien Charles, é uma mistura perfeita entre factos e ficção. Uma notável pesquisa, bem documentada nas Notas da Autora, levaram Janet Skeslien Charles a escrever um livro maravilhoso. Saber que a maioria das personagens existiram, tal qual como a autora as retrata, e que fizeram o que fizeram, é uma fantástica homenagem.

A ação passa-se em dois tempos (1939-1944 e 1983-1989) e em dois locais, Paris e Montana, nos EUA. Odile é uma jovem parisiense, apaixonada por livros que sonha em trabalhar na Biblioteca Americana. Apesar da opinião contrária do seu pai, ela candidata-se a um posto de trabalho nesse seu lugar de sonho, e é aceite. Acompanhamos então a vida de Odile e dos restantes membros do staff da biblioteca, assim como alguns dos seus frequentadores. É sem dúvida um mundo fascinante, que em breve, com a ocupação nazi, vê as suas fundações abaladas. É terrível o que acontece por todo o lado, mas a biblioteca, entre baixas e algumas condescendências por parte do "Bibliotheksschütz" - Protector das Bibliotecas, um cargo nazi para aquele que ia controlando as bibliotecas, consegue sobreviver, nunca fechando realmente.


Anos mais tarde, voltamos a encontrar Odile, já viúva, a viver numa pequena vila de Montana, em completa reclusão. E é aos poucos, com a ajuda de uma jovem vizinha, curiosa e insistente, que Odile
vai abrindo a sua concha, e contanto a história da sua vida. Embora tenha gostado muito de Odile, Lily foi a minha personagem favorita. Tendo recentemente perdido a mãe, e com o pai a voltar a casar, Lily é uma miúda que precisa mesmo de uma ajuda. E é na inusitada amizade entre as duas que a magia acontece. Adorei igualmente esta parte do livro.

Mais uma leitura que nos deixa espreitar pelo óculo do passado, para ver um pouco do que aconteceu em Paris nessa tão negra época. Desta feita focando a Biblioteca Americana, onde os seus corajosos funcionários, lutaram como puderam, com e através dos livros, arriscando as suas vidas e as dos seus entes queridos.

É sem dúvida um livro brilhante, que aborda igualmente temas não menos importantes como o amor, a amizade, a traição, a perda e a coragem. Um livro absolutamente maravilhoso que recomendo.

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