"As Esquinas do Tempo" de Rosa Lobato Faria

Sinopse:
"Quando Margarida chegou à Casa da Azenha teve aquela sensação, não desconhecida mas sempre inquietante, de já ter estado ali."

Margarida é uma jovem professora de Matemática. Um dia vai a Vila Real proferir uma palestra e fica hospedada num turismo de habitação, casa antiga muitíssimo bem conservada e onde, no seu quarto, está dependurado o retrato a óleo de um homem que se parece muito com Miguel, a sua recente paixão.
Por um inexplicável mistério, na manhã seguinte Margarida acorda cem anos atrás, no seio da sua antiga família.
Sem perder consciência de quem é, ela odeia esta partida do tempo. Mas aos poucos vai-se adaptando. Conhece o homem do quadro e apaixona-se por ele. Quando ele morre num acidente, Margarida regressa ao presente.

A minha opinião:
Após ler, desta mesma autora, “O Prenúncio das Águas” e um pequeno conto numa colectânea de contos de mulheres, confesso que após as primeiras páginas a desilusão me atingiu em cheio. Não só o tipo de escrita era diferente e quase que banal, como a história em si me soava incrivelmente parecida com a de um outro livro que li no ano passado (“O Vestido” de Milene Emídio).
Felizmente a meio do livro a narrativa pareceu dar uma reviravolta, e voltei a encontrar o tom doce e encantador com que esta autora me conquistou anteriormente. O enredo também conseguiu fugir à semelhança com o do outro livro, e de uma história simples e repetida passou a uma original reflexão sobre “as esquinas do tempo”, cujo conceito adorei.

Deixo aqui alguns excertos que me agradaram particularmente:

(…) Quantas das pessoas que se nos deparam todos os dias não serão reproduções exactas de pessoas de outras vidas? Só que não sabemos, nunca as conhecemos por isso não estranhamos.
Preciso de descansar, pensou. E tenho de partilhar este segredo com alguém. Com o Miguel, claro, com quem havia de ser? (…) Não se pode ter segredos para a pessoa que amamos. Não se pode. É um fardo demasiado pesado.(…)

(…) É o vento que perpassa nas copas das laranjeiras, que vem do mar e traz as gaivotas. É o vento que faz oscilar as minhas cortinas, que se insinua como um segredo por entre os arbustos do jardim. É o vento que me conta histórias antigas, antigas, como se fosse uma criança que não quisesse dormir. Não o ouves? Não. É o vento que sopra só para mim. É o vento manso, doce, da loucura que me invade lentamente e me deixa à mercê dos seus dedos de nuvens tão suaves e meigos.
Não sei explicar de outra maneira. Mas tu percebes, Miguel. Sabes que me sinto cada vez mais terna, cada vez mais feliz. (…)
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