Liberdade e revolta no pós-25 de abril
Revolução Paraíso é o romance de estreia de Paulo M. Morais
Todos os anos, a Porto Editora recebe milhares de originais,
de autores em busca de uma primeira publicação. Em 2012, depois de vários anos a
escrever para a gaveta, o jornalista Paulo M. Morais foi um dos que procuraram
uma oportunidade. Em 2013, a 18 de abril, e depois das inerentes alegrias
prévias, chega o momento aguardado: o romance Revolução Paraíso, uma obra sobre
a liberdade e a revolta no pós-25 de abril, fica disponível nas livrarias, com
chancela da Porto Editora.
A aposta neste novo autor português deu-se em função da
qualidade e da pertinência da escrita de Paulo M. Morais. Alternando realidade
e ficção, este é romance que transporta o leitor para os agitados dias da pós-revolução:
o retrato de um país que, entre o PREC e as eleições livres, procura um novo
rumo.
Sinopse:
Enquanto nas ruas se decide o futuro de um país, na
tipografia de Adamantino Teopisto vive-se um misto de enredo queirosiano, suspense
de um policial e ternura de uma novela: com sabotagens, amores proibidos e
cabeças a prémio; tudo num ambiente de revolução apaixonado. O rebuliço
generalizado tem repercussões no alinhamento do jornal e no dia a dia das
gentes de São Paulo e do Cais do Sodré. A revolução é o tópico das conversas
nas tascas, nas ruas, no prédio da Gazela Atlântica, contribuindo para o
exacerbar das tensões latentes entre o patrão Adamantino e os funcionários. A
vivacidade de uma estagiária, as manigâncias de um ex-PIDE foragido, os
comentários de um taberneiro e as intromissões de um proxeneta e de uma
prostituta agravam ainda mais a desordem ameaçadora que paira no ar. Nada foi igual
na vida dos portugueses após a Revolução dos Cravos. Nada foi igual na vida da
“família” Gazela Atlântica após o 25 de Abril.
Sobre o autor:
Paulo M. Morais, nascido em 1972, cresceu nos arredores de
Lisboa entre jogatanas de futebol, livros de aventuras e matinés de filmes clássicos.
Licenciado em Jornalismo, trabalha em imprensa e multimédia. Fez crítica de
cinema; especializou-se em gastronomia e viagens. Em 2006, de mochila às
costas, deu a volta ao mundo. Nos últimos anos, além de escrever ficção, tem-se
dedicado a conhecer e a divulgar o arquipélago dos Açores. Tem uma filha e já
plantou um pessegueiro em Trás-os-Montes. Revolução Paraíso é o seu primeiro romance
publicado
Excerto:
«Adamantino Teopisto e César Precatado adoravam-se e
odiavam-se como só acontece nas amizades extraordinárias. Facilmente evoluíam
do elogio à injúria, do gracejo ao amuo, do companheirismo ao distanciamento.
Mas, no fim, havia sempre um retorno como se as suas almas e existências
terrenas fossem inseparáveis. Vinha de Moçambique a instituição, fácil e veloz,
daquela intimidade enlaçada por referências e citações retiradas das obras de
Eça de Queiroz. A camaradagem entre os dois chegava a ofender quem ocupava o
mesmo espaço; eles consideravam-se de uma dimensão superior, com direito de
admissão reservado apenas
aos detentores da senha. Mas se havia realmente senha, mais
ninguém a conhecia. Frequentemente, as conversas entre Adamantino e César acabavam
em brindes e exultações, assinaladas com gritos de «hurra!», face à conivência
de ideias e à partilha de crenças. Igualmente casmurros, também prodigalizavam
em arrelias. Ao encontrarem um assunto separatista, entrincheiravam-se em
frentes de batalha opostas. A primeira fase da ofensiva costumava ser
cavalheiresca, por apreciarem o confronto ideológico feito com as armas da
argumentação. Porém, o debate honrado facilmente descambava
numa guerra desenfreada, onde os excessos de linguagem eram arremessados como
obuses. Adamantino, mais fervoroso, enfurecia-se com a aparente calma de César;
o revisor raramente desatava a expressão estática do rosto. Mas qualquer um
deles, ao seu estilo, era capaz de libertar uma saraivada de impropérios
antiquados.»