A história começa em 1803 na cidade de Charleston, no estado
da Carolina do Sul nos EUA apresentando como uma das personagens principais,
Sarah Grimké, filha de um dos mais proeminentes cidadãos da cidade, o juiz
Grimké.
Sarah Grimké, em conjunto com a sua irmã Angelina (Nina)
existiram de facto, e foram duas figuras históricas de grande importância nos
movimentos abolicionistas tendo sido igualmente das primeiras ativistas pelos direitos
das mulheres. Foi na história de Sarah e de Nina Grimké, que autora encontrou
por acaso, que se baseou para criar história fabulosa.
De forma a dar mais corpo à história, e com base em muitos
acontecimentos verídicos e práticas comuns da época e na cidade de Charleston, ela
criou igualmente um lado ficcional: o lado que representa os escravos. A
encabeçar esta parte da história está Hetty Handful e a sua mãe Charlotte.
Hetty é uma pequena escrava que é oferecida a Sarah como presente do seu 11º
aniversário - este facto é verídico. Mas a veracidade termina aqui. Alternando
a narrativa entre Sarah e Hetty, a autora consegue mostrar-nos fidedignamente
como era a vida na cidade de Charleston no início de 1800, tanto para uma jovem
de uma família importante, como para uma jovem escrava, no meio dos 17 escravos
pertences a essa família.
A casa da família Grimké em Charleston. |
A relação entre as duas está presente durante todo o livro, mas
não domina a história. Não é uma relação fácil, pois são ambas
personagens muito fortes e com uma grande presença de espírito, mas é
simultaneamente uma relação indestrutível. O que as une são as barreiras que as
limitam. A de Sarah, os limites impostos às mulheres naquela época, não as
permitindo sequer ter opiniões sobre o seu futuro; a de Hetty, os limites
impostos pela sua condição de escrava. Também não há sobrevalorização de uma em
detrimento da outra, como qualquer autor poderia facilmente sentir-se tentado a
fazê-lo. São como duas faces da mesma moeda. Adorei
encontrar esta igualdade entre as duas. Foi muito digno da autora fazê-lo desta
forma.
É um livro assombroso. Escrito de forma maravilhosa, que nos incita a ler mais e mais, a acompanhar a vida de Sarah e de Hetty, a sentir, a entender, a reflectir. Uma leitura que adorei e que não
hesito em recomendar. É mesmo um livro que preenche todos os requisitos. :)
Podem começar a ler as primeiras 50 páginas aqui. Tirarão todas as vossas dúvidas!
P.S. Se não leram nada desta autora até agora, não esperem
mais e comecem por este livro. Depois procurem "A Vida Secreta das Abelhas", outro
livro fenomenal, também em filme.