Desde as terras campestres da Rússia até à inóspita pampa argentina povoada de índios, uma menina de doze anos, abandonada pelos pais, deverá empreender a sua missão mais importante: viver. A extraordinária vida de Olga começa na faustosa Rússia dos últimos czares Romanov, quando, com somente doze anos, a sua família decide abandonar o país, deixando para trás tudo o que tinha, inclusivamente uma das suas irmãs. Começa então uma grande viagem que os levará a Inglaterra e Canadá, antes de chegarem à longínqua e desconhecida Argentina, onde a família se separará definitivamente. Ali, a pequena Olga começará uma nova vida plena de dificuldades, que enfrentará da melhor maneira possível. Terá de ultrapassar novas separações e notícias infelizes, duas guerras mundiais que a atingirão profundamente, mas também conhecerá o amor e iniciará a sua própria família, reencontrará pessoas que julgara desaparecidas e trabalhará nas suas próprias terras na pampa argentina.
A minha opinião:
Esta é a história da magnífica jornada de Olga, uma menina russa-alemã que atravessou meio mundo para ir viver nas pampas argentinas. É a história de uma família que pela vontade férrea do pai, não se detém perante nada na perseguição dos seus sonhos, mesmo que isso implique o desmembrar da mesma.
É sem dúvida uma história maravilhosa, contada na primeira pessoa como se de um conto se tratasse. E é nesse tom íntimo e pleno de nostalgia, que Olga, no auge dos seus 91 anos e ao longo de vários meses, relata a história da sua atribulada vida a uma das suas netas, a autora Yolanda Scheuber. De entre as peripécias que a vida lhe foi reservando, Olga nunca se deixou abater, lutando sempre pelos seus sonhos e acreditando que nada era impossível. É um livro riquíssimo, cheio de lições preciosas que devemos reter e guardar com carinho.
Transcrevo aqui uma das passagens que mais me tocou:
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“Cada um é herdeiro de si mesmo”, escrevia Rabelais. E essa é a verdadeira liberdade.
Vimos sós a este mundo e temos sempre de optar. Temos de procurar a nossa identidade através de um caminho cheio de opções. Se escolhemos um ods caminhos, deixamos outros para trás onde as opções teriam sido diferentes, talvez melhores, ou talvez piores, talvez tívessemos sido um pouco mais felizes, mas teríamos de ser sempre nós mesmos. Talvez o mistério da nossa felicidade esteja dentro de nós, no nosso âmago.
Com os anos e a experiência compreendi que a felicidade não depende do que se passa à nossa volta, mas sim do que se passa no interior do nosso coração. Que a felicidade se mede com a sensatez que enfrentamos os problemas da vida, e que sempre será uma situação de valentia, pois é mais fácil estar triste e deprimido. Mas a verdadeira felicidade (a que nos invade mente e alma) é um estado e como tal, devemos optar livremente por ela, não fazendo sempre o que queremos, mas querendo sempre o que fazemos.
Quando nascemos ninguém nos dá a receita da felicidade. Há milhões de receitas de comidas, de sobremesas, de perfumes, de medicamentos, mas quanto à felicidade não existe nem existirá nunca uma fórmula mágica que, aplicada a todos por igual, nos dê um resultado exacto. Cada ser humano cultiva-a dentro da sua alma com a força e coragem necessárias. Com a dose exacta para cada ser, que variará de acordo com as pessoas. Alguns necessitarão de mais alguns gramas de valentia, outros de sensatez, outros talvez de serenidade, outros de mais amor, alegria para condimentar com bondade misturada ao mesmo tempo. A receita somente existe para cada um de nós e não podemos aplicá-la a todos por igual.
A felicidade não é uma paragem à qual temos de chegar, uma meta, um horizonte. A felicidade é uma forma de estar na vida. Se a perseguirmos parece que nunca mais a alcançamos, é como a nossa própria sombra, que foge quando vamos atrás dela, mas quando chega, chega sem nos apercebermos e quando menos a esperamos. (...)