Este livro é um relato sofrido, contado na primeira pessoa, da vida de uma mulher portuguesa independente, apaixonada e determinada que atravessa a segunda metade do século xx em luta contra os preconceitos de uma sociedade que asfixiava. É constituído por oito capítulos, cada um identificado por uma cor. São os acontecimentos que marcam o percurso da personagem principal que determinam cada uma das cores, as cores da sua vida. um país em ditadura, uma gente que vai procurar em áfrica o que aqui não encontrava, uma guerra que deixou feridas, mas também, as lutas estudantis, o 25 de abril, a reforma agrária… Dotada de uma personalidade muito forte, esta mulher é capaz de fazer as suas escolhas pessoais sem se deixar intimidar.
A minha opinião:
Muitas vezes damos por nós a ler livros enormes, cheios de páginas e páginas repletas de … nada. E eis que me surge nas mãos este pequeno livro, com apenas 129 páginas, cada uma delas cheias de significado e sentimento.
Num tom semelhante ao de um diário, a autora descreve os últimos 45 anos da sua vida, acompanhados de uma forma casual (por sinal, bastante interessante!) dos acontecimentos da atmosfera social e política de Portugal e do mundo.
Eu gostei imenso desta leitura, talvez exactamente pelo contexto em que a história está integrada.
De inicio encontramo-nos num Portugal profundamente manietado pelo regime salazarista, depois rumamos em direcção a uma das colónias, Moçambique, onde o ar que se respirava era um pouco mais livre, apesar de ainda se sentir o jugo do regime e apesar da guerra tão próxima. De regresso a Portugal, logo após o 25 de Abril, entendo finalmente as reticências que senti em pequena, quando alguém falava sobre os “retornados”. Daí para a frente todos os acontecimentos históricos saltam da minha memória à medida que são introduzidos na história. Até aos dias de hoje.
Com um olhar mais demorado pela capa, apercebo-me das semelhanças entre a própria autora e a personagem principal do livro.
Será este livro uma realidade? Ou será que a própria realidade se emaranha nos fios da meada da história? O resultado é algo extraordinário.
É um livro escrito por alguém que no final da sua vida se limita a contar uma história, sem fazer juízos sobre si própria ou sobre as escolhas que tomou. O tom é melancólico e talvez um pouco triste, mas é uma leitura perfeita para um final de tarde no sofá, acompanhado de uma boa chávena de chá.