Esta foi realmente uma leitura agridoce. Ainda mal podia em
mim de contente, pelo regresso aos romances épicos por parte da minha autora
favorita de sempre, quando soube da sua morte. Colleen McCullough faleceu a 29
de janeiro deste ano, vítima de doença prolongada. :(
Apesar de nos últimos anos o corpo lhe falhar, Colleen nunca deixou de escrever. Agridoce foi a
sua última publicação.
Antes de se tornar numa autora conceituada, através da
publicação de Tim e de Pássaros Feridos, Colleen McCullough foi uma
neurocientista notável, tendo dedicado dez anos da sua vida à pesquisa nessa área,
na Universidade Médica de Yale, nos EUA. Foi igualmente a responsável pela
criação do departamento de Neurofisiologia no Hospital Royal North Shore de Sidney.
Talvez por isso ela se sinta bastante confortável a escrever histórias onde a
ação decorra num hospital. Assim foi em Uma Obsessão Indecente, Um Passo à Frente, e agora neste Agridoce.
Segundo a própria, a palavra agridoce foi o mote. Porque não
escrever sobre a vida, que tantas vezes nos surge como agridoce? A sua própria vida foi um bom exemplo disso!
Também queria
escrever algo sobre um hospital do interior, com enfermeiras e talvez sobre o amor fraternal. Foi quando neste último ano, apareceu-lhe do nada a ideia dos dois pares de gémeas.
E assim nasceu este novo livro, Agridoce, como a vida, com uma história sobre a vida das
gémeas Latimer.
A ação passa-se na Nova Gales do Sul, na cidade ficcionada
de Corunda, a duas horas de comboio de Camberra, e atravessa as décadas de 1920
/ 1930, durante a Grande Depressão que assolou todo o mundo civilizado. As gémeas
Latimer, Edda, Kitty, Grace e Tufts, filhas do pastor anglicano da cidade, são
conhecidas por toda a Nova Gales do Sul, não só pela sua beleza, inteligência,
perspicácia e língua afiada,
Quando vi a capa original, reconheci de imediato Edda. Pelo menos a que imaginei. |
As gémeas Latimer condensam entre elas a força feminina que aos poucos se foi impondo num mundo dominado por homens.
E como sempre foi habitual nesta querida autora que agora
nos deixou, este livro passa claramente a fronteira do romance histórico,
tornando-se um fabuloso romance épico, que nos inspira, ensina ao mesmo tempo
que nos entretém.
Ler Colleen McCullough, foi e sempre será um prazer.
Até sempre, Colleen.
Numa das suas últimas entrevistas, na sua sala dos fetos, a boa disposição de Colleen, tal como na vida, foi um fator sempre presente. |
Se nunca leram Colleen McCullough sintam-se privilegiados,
pois têm ainda as obras dela para descobrir. A mim resta-me ler A Canção de Tróia,
O Dia de Todos os Pecados e a série de O Primeiro Homem de Roma, e esperar novas
publicações de outros livros dela em Portugal.
Muito obrigada à Bertrand por esta leitura magnífica.
Para mais informações sobre este livro, visitem por favor a página do mesmo no site da Bertrand, aqui.