A minha opinião:
Existem livros que gosto de comparar com uma janela aberta.
Às vezes, sinto-me como se estivesse debruçada da ampla janela de um 1º andar, olhando para baixo e vendo a acção desenrolar-se.
Ler este livro foi um pouco assim.
No entanto, ao invés da vista desempedida da ampla janela de 1º andar, foi como se eu estivesse frente a uma grande janela de rés do chão, aberta sim, mas levemente tapada por uns longos cortinados brancos de musselina, que ondulando iam transformando a minha visão ao sabor do vento que entrava.
Não foi uma leitura fácil, mas foi uma leitura deliciosa.
A autora alterna entre a narração de uma história contada na terceira pessoa, e uma "carta" escrita na primeira pessoa, onde encontramos laivos de uma certa esquizofrenia que contribui para o misticismo da história, tornando-a sem dúvida, ainda mais preciosa.
Gostei.
«Dentro de mim estou a mirrar. Subo o leito do regato sob as árvores vigilantes e sei que não sou a mesma. Perco alguma coisa a cada passo que dou. Sinto o esgotamento. Está a abandonar-me alguma coisa preciosa. Eu sou uma coisa à parte. Com a carta pertenço e sou válida, legítima. Sem ela sou um bezerrinho fraco abandonado pela manada, um servo sem os sinais característicos mas com uma escuridão com a qual nasci, exterior, emplumada e com dentes salientes. É isso que a minha mãe sabe? Porque me escolheu para viver sem mim? Não é a escuridão exterior que partilhamos, a minha mãe e eu, mas a interior que não partilhamos. É este morrer apenas meu? É a coisa com garras e penas a única vida em mim? Diz-me. Também tens o escuro exterior e quando te vejo e caio em ti sei que estou viva. De súbito, não é como antes, quando estou sempre com medo. Agora não tenho medo de nada. A partida do Sol deixa atrás escuridão e o escuro é eu. É nós. É a minha casa.»
P.S. Adorei a capa! Acho que as capas são muito importantes para ajudarem o leitor a entrar na história e esta desempenhou esse papel na perfeição.
Obrigada querida Betita por mais esta oportunidade!