“Os Dias da Febre” de João Pedro Marques

Não estou bem certa, mas julgo que foi a primeira vez que abordei nas minhas leituras a Lisboa do século XIX, os seus usos e costumes e as formas de vida de cada classe social. Foi interessante perceber como funcionava Portugal nessa altura, qual a realidade das colónias portuguesas, como se processava o infame negócio da escravatura e acima de tudo, como lidou a nossa capital com a crise da febre amarela, um surto que dizimou milhares em escassos meses.

Era exactamente esse surto que eu esperava que fosse o tema central da história (afinal o nome do livro é sobre ele!). Mas não. Na verdade até me surpreendeu o facto de tão pouco se falar sobre "os dias da febre", e esta servir apenas como um dos “padrões de fundo” para a história de amor que se veio a desenrolar.

Apesar de ter gostado, acho que foi uma leitura um pouco complicada. Notei-lhe uma certa desorganização na narrativa.
Por vezes deu-me a sensação que cada capítulo foi escrito de forma independente e depois colocado quase que aleatoriamente no local que talvez não fosse o mais correcto. Aconteceu também, por diversas vezes, a mesma informação sobre um acontecimento pessoal, ser transmitida em duas ocasiões distintas, no fundo uma repetição desnecessária e que vem a corroborar a minha teoria de que cada capítulo foi escrito individualmente.

A meu ver, este autor tem um grande potencial para escrever um bom romance histórico, precisa no entanto de uma melhor organização na apresentação da história.

Sinopse:

Descendo a Calçada de Santana e espreitando por entre as cortinas da sua carruagem, Elvira Sabrosa vislumbra Robert Huntley, um inglês que não via desde os tempos da infância, há mais de 20 anos.
Os Dias da Febre narra as circunstâncias que conduziram ao reencontro de Robert e Elvira, e o que dele decorreu. O cerne da acção situa-se em 1857, quando Lisboa estava a ser atingida por uma epidemia de febre-amarela que mataria quase 5 mil pessoas. É nesse contexto alarmante e febril que a intriga se desenvolve e que o leitor é convidado não só a conviver com as figuras da época, mas também a percorrer a cidade em toda a sua diversidade, dos camarotes do S. Carlos às ruas apertadas de Alfama, das enfermarias do Hospital de S. José às bancadas das Cortes, dos salões das senhoras das classes altas ao bulício do café Nicola.


Romance histórico escrito por um historiador e extensamente apoiado na documentação existente, Os Dias da Febre tem a História sempre presente sem, todavia, se dar muito por ela, já que se trata de uma história da vida quotidiana, embebida na própria narrativa. Isto significa que não estamos apenas perante um romance sobre uma epidemia, a morte e o amor: Os Dias da Febre é também uma viagem pelos sons, os cheiros, as gentes, as casas, os costumes, as cores - numa palavra, pela vida - da Lisboa de meados do século XIX.
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